Há 50 anos Tim Maia fez o Brasil dançar ao som do soul

Desde 1969, o sucesso já vinha rondando Sebastião Rodrigues Maia (28 de setembro de 1942 – 15 de março de 1998).

No segundo semestre daquele ano, o popular Tim Maia gravou compacto que trazia Jurema (música de autoria do artista) no lado A e a balada Primavera (Vai chuva), de Cassiano e Silvio Roachel, no lado B.

Em dezembro, Roberto Carlos lançou álbum em que apresentou, na abertura do lado B, o funkaço Não vou ficar, composição de autoria de Tim, o amigo com quem o então Rei da juventude convivera no bairro carioca da Tijuca nos tempos de dureza.

Mas foi em 1970, há 50 anos, que Tim Maia emergiu de vez e fez o Brasil dançar ao som do soul e do funk, ritmos norte-americanos que o cantor e compositor carioca soube misturar com levadas nacionais e um tempero original.

Logo no início de 1970, a gravadora Philips decidiu lançar o compacto que Tim gravara em 1969. Primavera, e não Jurema, estourou e abriu caminho para gravação e edição do primeiro álbum do artista, o antológico Tim Maia. O LP também estourou e Tim Maia nunca mais deixou de ser referência no universo do funk e do soul do Brasil.

Indomado, Tim Maia logo virou uma lenda. Um artista cujo temperamento agitado rendeu histórias que entraram para o folclore da música brasileira e, de certa forma, se tornaram maiores do que a obra de Tim. Mas a obra está aí e (parte dela) resiste muito bem ao tempo. A rigor, a discografia de Tim Maia é realmente relevante somente no período que vai de 1970 a 1983, sobretudo pelos álbuns gravados entre 1970 e 1975.

De 1984 em diante, Tim diluiu e adocicou essa obra, aderindo ao romantismo pasteurizado dominante na década de 1980. Só que Tim soube viver dos sucessos amealhados até 1983, enfileirando nos shows uma sequência irresistível de hits, como se comandasse um baile. Quando ele ia aos próprios shows, a diversão era garantida se não brigasse com os técnicos de som e saísse, irritado, do palco.

A pedra fundamental dessa obra adorada por pessoas de todas as classes sociais é o álbum Tim Maia de 1970. Esse disco apresentou músicas como a balada-soul Azul da cor do mar, composta por Tim em momento de solidão e melancolia. Além de Primavera, os compositores Cassiano e Silvio Roachel contribuíram com Eu amo você, outra balada de peso, encharcada da alma do soul.

Nem tudo era soulfrênciaCoroné Antonio Bento (João do Vale e Luiz Wanderley) animou a festa ao misturar soul com baião, erguendo ponte entre os Estados Unidos e o nordeste do Brasil, antecipando em dois anos a fusão (de tom mais roqueiro) feita por Raul Seixas (1945 – 1989).

Com o vozeirão grave de baixo-barítono, Tim amplificou todas essas músicas e as eternizou no cancioneiro nacional. Outros sucessos vieram. Mas a base foi plantada há 50 anos com o estouro de Primavera e a consequente edição desse álbum histórico lançado em 1970 e intitulado tão somente Tim Maia.

Com Blog do Mauro Ferreira