A saída do superintendente Paulo Autouri do Santos, anunciada pelo dirigente na última terça-feira, abre as portas para que Jorge Sampaoli também deixe a Vila Belmiro ao fim da temporada.
Ambos compartilham do mesmo descontentamento com a direção do clube, especialmente o presidente José Carlos Peres, com quem há divergências que se acumularam durante o ano.
Sampaoli e o cartola tiveram atritos durante a temporada, sempre tornados públicos em entrevistas, principalmente nas do argentino – Peres tentou, diversas vezes, minimizar as discussões.
As reclamações do técnico incluem a falta de planejamento, atrasos em pagamentos, contratações de atletas sem aval da comissão técnica e até a insistência de Peres de levar jogos do Santos para o Pacaembu – uma batalha vencida por Sampaoli, que tem apoio dos atletas na preferência pela Vila.
A contratação de Autuori, em julho, diminuiu a tensão entre Peres e Sampaoli, já que o novo superintendente se tornou o elo do técnico com a diretoria.
Mas Autuori também perdeu a paciência com Peres, menos de seis meses depois de chegar com a missão de comandar uma grande reformulação no clube, inclusive nas categorias de base alvinegras.
O superintendente afirmou na terça que deixará o clube em dezembro, quando termina o Campeonato Brasileiro – o Santos é o terceiro colocado e já tem vaga, ao menos, na primeira fase da Libertadores.
Para Autuori, a gota d’água foi a declaração de Peres, no último domingo, pedindo que Cueva voltasse a ser escalado por Sampaoli para que fosse valorizado – o clube sonha vender o jogador, caro e pouco utilizado, em janeiro.
Cueva foi afastado do elenco após uma confusão numa casa noturna de Santos. À época, Autuori foi claro ao dizer que o meia não jogaria mais pelo time nesta temporada.
– Só tem uma pessoa que pode colocar ou tirar jogador em termos técnicos, táticos, comportamentais. É o treinador. Isso vou defender até a morte. Fui treinador até pouco tempo atrás e jamais vou permitir esse tipo de interferência – disse Autuori.
Pessoas próximas a Sampaoli afirmam que o treinador se sente “confortável” com a presença de Autuori. Sem ele, o argentino perde o escudo que acalmou os ânimos nos bastidores do Santos.
Essas mesmas pessoas, porém, não relacionam uma possível saída de Sampaoli diretamente ao anúncio de Autuori. Segundo elas, a insatisfação do treinador extrapola esse episódio em si e poderia levar ao adeus ainda que o superintendente decidisse continuar na Vila Belmiro. Sampaoli tem contrato com o clube até o final do ano que vem e, segundo informações do Santos, há uma multa de R$ 10 milhões para a rescisão antecipada.
O técnico, porém, tenta excluir essa cláusula do contrato para poder deixar o clube sem precisar indenizá-lo – quando perguntado sobre o tema, Sampaoli alegou “confidencialidade” e não comentou.
No Santos, há pessimismo sobre a permanência do treinador, mesmo com campanha de torcedores pedindo que ele continue no comando do time. Publicamente, Sampaoli diz que ainda não sabe se ficará. O argentino costuma afirmar que se sente bem em Santos, no clube, mas que sua decisão levará em conta a possibilidade de conquistar bons resultados.
Ele ficou incomodado quando ouviu de Peres que 2020 será de poucos investimentos, mas que será cobrado pela conquista de títulos mesmo assim.