Não há qualquer menção à maconha no texto enviado pela gravadora Warner Music à mídia para promover o lançamento do single e do clipe de Verdinha, música inédita que Ludmilla lançou na sexta-feira, 29 de novembro.
O texto fala em “liberdade de escolha” e “quebra de rótulos” antes de sentenciar que 2019 foi um dos melhores anos da carreira da cantora e compositora fluminense.
No clipe de Verdinha, filmado sob direção de João Monteiro, Ludmilla aparece em plantação de alface para evitar qualquer eventual acusação de estar fazendo apologia de droga ilícita de acordo com a lei vigente no Brasil.
Mas, para não deixar dúvida, há literalmente fumaça no clipe que promove a gravação da música composta pela artista e produzida por Walshy Fire (DJ do trio Major Lazer) e pelo artista dominicano Topo La Maskara.
Ou seja, por estratégica opção, Ludmilla fala sobre maconha em Verdinha sem mencionar explicitamente a droga, tal como fizera em Onda diferente, música que compôs e que, a contragosto da autora, foi parar no mais recente álbum de Anitta, Kisses (2019), em gravação feita com Snoop Dogg e a própria Ludmilla.
Assunto recorrente no universo pop do Brasil e do mundo, aparecendo de forma explícita ou cifrada em letras de música, o consumo de maconha é tema perigoso de ser abordado em país como o Brasil, ainda sem eficaz educação preventiva dos males provocados pelas drogas na população, sobretudo na população jovem, principal público-alvo do funk pop de Ludmilla.
A questão é que Ludmilla parece falar de maconha por questão meramente mercadológica, somente para surfar em onda de sucesso. Em Verdinha e em Onda diferente, a fumaça não acende o fogo político que jogou o Planet Hemp em caldeirão fervente na fase inicial do grupo nos anos 1990.
Em cena a partir de junho de 1993, a banda de Marcelo D2 falava explicitamente e repetidamente de maconha no repertório, transformando a obsessão pelo tema em luta política contra a repressão. Por isso, o Planet Hemp pagou alto preço, enfrentando perseguição policial e amargando o prejuízo gerado pela proibição e cancelamento de shows. Mas espalhou o fogo sem metáforas, levantando discussões sobre o assunto com a cara e a coragem.
Ludmilla vai por caminho diferente do Planet Hemp e do trilho seguido anteriormente, nos anos 1980, pelo sambista Bezerra da Silva (1927 – 2005), partideiro que versava sobre maconha com irreverência.
Enfim, ao compor e lançar uma música como Verdinha, em onda já seguida por cantoras como Rihanna, Ludmilla exerce o direito sagrado da liberdade de expressão de aludir na obra autoral a um tema ainda cercado de tabus.
Mas deixa a sensação de que faz apenas fumaça com Verdinha sem acender o fogo também sagrado do debate político e social sobre a controversa questão da descriminalização do usuário de maconha.