Cristiano Ronaldo é um dos maiores artilheiros do futebol mundial na atualidade. Costuma passar da marca dos 50 gols por temporada. E estar à frente do português na tabela de goleadores do Campeonato Italiano na virada do ano é um feito para poucos. Apenas três atletas conseguiram tais números em 2019: Lukaku, da Inter de Milão, Immobile, do Lazio, e um brasileiro. Trata-se do atacante João Pedro, do Cagliari. Aos 27 anos e em sua sexta temporada no clube da Sardenha, ele acumula 11 gols, um a mais do que CR7.
– Te dá confiança. O Campeonato Italiano é muito difícil. Tem um diferencial que não sei se dá mais dificuldade, mas é uma competição muito tática. Tanto que o Cristiano Ronaldo, um dos maiores da história, fazia 40 gols na Espanha e aqui ele faz 25. É difícil jogar contra as defesas italianas. Por estar à frente de um cara como ele, eu tenho a sensação que estou fazendo algo de valor. Estou muito ansioso para o que está por vir – contou o jogador, por telefone.
João Pedro ficou pouco tempo no Brasil. Revelado pelo Atlético-MG, o atacante foi negociado com o Palermo, da Itália. Jogava pouco e acabou ficando por lá por uma temporada. Atuou em Portugal até chegar ao Peñarol. Lá ajudou a equipe a chegar à final da Liberadores de 2011. Naquela ocasião, os uruguaios perderam para o Santos de Neymar e acabaram com a segunda colocação.
Mas a relação com Neymar começou alguns meses antes. Entre dezembro e o início de janeiro, João Pedro fez parte da preparação da seleção brasileira sub-20. A equipe, na época comandada por Ney Franco, disputaria o Sul-Americano da categoria. Porém, antes do embarque para o Peru, o atacante foi cortado, já que o time canarinho só poderia inscrever 18 atletas.
– Fiquei no meio do caminho. Acabei não viajando – relembrou o jogador, que tem mais de 50 jogos por seleções de base e disputou o Mundial sub-17 em 2009.
Após a passagem pelo Uruguai, João Pedro desembarcou na Vila Belmiro, no Santos. Ficou lá por duas temporadas e acabou voltando para Portugal. E foi justamente após o bom desempenho no Estoril que as portas do futebol italiano voltaram a se abrir. Em 2014, ele foi contratado pelo Cagliari e de lá não saiu mais. Se o início no Palermo não foi fácil lá atrás, em 2010, quatro anos depois a vida mudou.
Hoje João Pedro é casado com a italiana Alessandra e tem dois filhos: Andre Felipe, de 4 anos, e Elizabeth, de 7 meses.
– Já são sei anos que estou no Cagliari. Minha esposa é italiana, ajudou bem com a língua. Falo perfeitamente o italiano, consigo me expressar bem e entender tudo. E jogar no mesmo time por mais de cinco temporadas é um feito importante. Estou em uma ilha, destacada do continente. Se vive e se respira o futebol. Não tem outro time. Quem vive aqui, nasceu aqui, torce pelo Cagliari.
E o clube da Sardenha tem como maior ídolo de sua história um ícone do futebol italiano: Luigi Riva. Maior artilheiro da seleção italiana, o atacante, inclusive, encarou o Brasil na final da Copa do Mundo de 1970. João Pedro conhece muito bem a história da lenda.
– Se fala e se respira muito o Riva por aqui. Além de ser o maior da historia do Cagliari, ele é o maior da história da Itália. É o craque do único titulo nacional do clube. Ele não é dá Sardenha, mas mora aqui até hoje – contou o jogador (NR: o time da Sardenha venceu o Campeonato Italiano na temporada 69-70).
A temporada 2019-2020 pode ajudar João Pedro a entrar no seleto grupo de ídolos do clube.
– É o ano do centenário, ano importante para o clube. Estamos jogando bem, tentando fazer história de novo. Quando você vai fazendo história, você vai pegando tudo de bom que o clube tem.
Os números ajudam o brasileiro. Em 2019, João Pedro tornou-se o oitavo maior artilheiro da história do Cagliari, com 50 gols. Além disso, com o gol marcado na derrota por 2 a 1 de sua equipe para a Udinese, ele igualou o recorde de Riva de marcar 10 gols em 15 jogos.
– Estou colocando peso na minha história. O Riva conseguiu essa marca no ano do único título italiano do Cagliari.
O carinho que João Pedro demonstra pela Sardenha ficou evidente no bate-papo e ele admitiu que o local é mais do que especial.
– Eu me sinto em casa aqui. Sempre tenho a ambição de conquistar mais coisas. É uma terra apaixonante, bem parecida com o Brasil. Clima tropical, não tem o problema com o frio como o norte da Itália.
E essa paixão pela região ganhou um ingrediente a mais quando João Pedro relembrou o início de 2018. Naquela ocasião, o jogador foi pego no exame antidoping pelo uso da substância hidroclorotiazida. O atacante foi suspenso por seis meses e o carinho do povo da Sardenha mexeu com o atacante.
– Fui pego de surpresa pelo que aconteceu. Não tinha feito nada de errado. Tive sorte de conseguir provar tudo. Mas quando seu nome fica ligado a palavra doping fica uma coisa muito forte. Depois que aconteceu comigo eu fui pesquisar muitos casos e, na maioria deles, a contaminação é um por um erro do doutor, erro de terceiros. Muito difícil digerir até hoje. Meu filho ainda era pequeno e eu não precisei ficar explicando muito para ele. Na cidade, eu me senti abraçado. Tinha criança de 10 anos que vinha me dizer que acreditava em mim. Senhora de 80 anos. Isso me tocou muito e só posso agradecer.
João Pedro tem contrato com o Cagliari até 2023 e quer aproveitar a boa fase. Se depender do atacante, no fim do Campeonato Italiano, o clube conseguirá os objetivos e ele estará bem à frente de CR7.
– Quem sabe a gente não entra para história também.
Com GE