♪ ANÁLISE – Em 55 anos de carreira fonográfica, Gal Costa gravou somente dez músicas de autoria de Milton Nascimento. Essa contagem pode – e deve – aumentar a partir do segundo semestre deste ano de 2020 ou de 2021, caso a cantora concretize o projeto de disco e show centrados no cancioneiro do compositor.
Provisoriamente intitulado As várias pontas de uma estrela, nome de música de 1982, composta por Milton em parceria com Caetano Veloso e nunca gravada por Gal, esse projeto já existe há alguns anos e tem relevância justamente pelo fato de até então a cantora ter registrado tão poucas músicas de Milton desde que estreou em disco em 1965.
A presença espaçada de Milton na discografia de Gal talvez seja explicada pela proximidade de Milton com Elis Regina (1945 – 1982), primeira cantora a jogar luz sobre a obra do compositor com a gravação da Canção do sal no álbum Elis, lançado em 1966, um ano antes da explosão nacional de Milton com a apresentação de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) em festival.
É que Milton sempre deu a Elis a primazia de gravar as músicas que compôs ao longo dos anos 1970, quando já estava precocemente consagrado como um dos gênios da MPB.
Antes, em 1976, a cantora deu voz a Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1974), no show e disco Doces Bárbaros, feitos com Caetano, Gil e Maria Bethânia.
Nos anos 1980, após a morte de Elis, Gal se aproximou mais do compositor e lançou três músicas de Milton Nascimento com letras de Fernando Brant (1946 – 2015) – Solar, Quem perguntou por mim e Me faz bem (bela, sensual e esquecida canção, diferente do tom habitual da obra de Milton) – nos álbuns Minha voz (1982), Bem bom (1985) e Lua de mel como o diabo gosta (1987), respectivamente.
Depois desses discos, o único álbum de Gal que apresentou canção inédita de Milton foi Estratosférica (2015), cujo repertório inclui Dez anjos, parceria do compositor com o rapper Criolo.
Gal gravou quatro canções de Milton em discos alheios. Com o próprio Milton, a cantora deixou registrado Um gosto de sol (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) no álbum Milton Nascimento ao vivo (1983).
Com o Boca Livre, Gal deu voz a Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) em disco de 1997 pautado por encontros do grupo vocal com estrelas da MPB.
Com Wagner Tiso, Gal regravou Solar (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1982) para o CD e DVD 60 anos – Um sonho imaginário (2006) com a adesão do próprio Milton.
Enfim, se juntar as várias pontas dessa discografia, dá somente dez gravações. O que aumenta o valor deste vindouro projeto da estrela Gal Costa em torno da obra de Milton Nascimento.