Enquanto o São Paulo se prepara para dar condições aos seus atletas e funcionários quando o futebol voltar à ativa, o diretor-executivo de futebol Raí deu uma declaração pessoal muito forte em relação ao posicionamento do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia de coronavírus. O dirigente sugere a renúncia do político.
– Um posicionamento atabalhoado, é o mínimo que se pode dizer. Naquele momento, por exemplo, que ele deu aquele depoimento em rede nacional… Ele está no limite, muitas vezes, da irresponsabilidade, quando ele vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde – disse o dirigente.
Raí reforçou que essa opinião em relação ao governo de Bolsonaro é totalmente pessoal, desvinculada do seu trabalho como diretor-executivo do São Paulo. Mas nessa entrevista ao site GloboEsporte.com, o campeão do mundo com a seleção brasileira em 1994 completou:
– Outro absurdo do Bolsonaro é inventar crises políticas ou de interesses próprios, familiares, no meio de uma pandemia. É inaceitável. Tenho certeza que muita gente concorda, inclusive alguns apoiadores do Bolsonaro. Ele foi eleito democraticamente, mas a própria democracia está conseguindo frear.
O ex-meia sugere a renúncia de Bolsonaro no lugar de um processo de impeachment.
– Se perder a governabilidade, eu torço e espero uma renúncia para evitar o processo de impeachment, que sempre é traumático. Porque o foco tem que ser a pandemia. (O impeachment) não é uma coisa que tem de se pensar agora, energia nenhuma pode ser gasta nisso, mas se estiver prejudicando ainda mais essa crise gigantesca de saúde, sanitária, tem que ser considerado – opinou.
– Eu acho que isso me fez até questionar o presidencialismo. Estar sujeito a uma pessoa como essa, a um presidente como esse, que foi eleito democraticamente, mas que toma decisões que confundem completamente a população. Por causa dele, e aí o cálculo pode até ser feito, milhares de mortes a mais vão acontecer – acrescentou.
Irmão de Sócrates, ídolo do Corinthians, líder da Democracia Corinthiana e com papel importante na campanha de Diretas Já, Raí foi questionado como seria o posicionamento do parente, que morreu em 2011.
– Bom, se vocês acharam o meu depoimento forte, imagina o Sócrates. Inaceitável, indignação, só que na natureza dele iria se colocar e obviamente na mesma linha eu seguiria. E ao estilo do Doutor Sócrates, que com certeza teve uma importância gigantesca na história do país – falou Raí.
O posicionamento do São Paulo
Como diretor-executivo do Tricolor, Raí está preocupado com uma eventual aceleração do processo de retorno às atividades do futebol no Brasil.
– É bom deixar claro e reforçar que a posição do São Paulo não é voltar rápido. É voltar ao seu tempo, com as orientações, e gradativamente, começando obviamente o treino sem uma data certa de quando o campeonato vai retornar – disse o dirigente.
Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro se mostrou favorável ao retorno do futebol, desde que houvesse parecer técnico do Ministério da Saúde. Na última segunda-feira, ele afirmou ter sido procurado por autoridades do futebol e disse que “está sendo trabalhado nesse sentido”.
O secretário especial da Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou que o retorno do futebol brasileiro acontecerá “em breve”.
Ainda sem uma definição para retorno das atividades, o São Paulo tem se preparado para equipar o clube e ter condições de retomar a rotina com segurança. Inclusive para fazer testes do coronavírus.
– É uma preocupação nossa os testes. Vemos que está começando a crescer oferta, nós também temos de estar ligados à realidade do país, a necessidade dos hospitais. De qualquer forma, estamos encomendando e vendo como podemos ter acesso a todos equipamentos de segurança – disse.
Raí vai propor à Federação Paulista de Futebol também que os clubes e a FPF ajudem os hospitais:
– De alguma forma, quando voltar, o futebol tem de estar atento para colaborar também dependendo da realidade no momento e na medida do possível com a rede estatal de hospitais. É uma coisa a se pensar também. É uma coisa que também estava pensando em propor à federação. Os clubes vão precisar dos equipamentos, mas a federação e os clubes também podem colaborar com a população.
O Brasil registra mais de 5 mil mortes por Covid-19. No estado de São Paulo houve mais de 2 mil óbitos até esta quarta-feira, de acordo com o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde.
O governador do estado, João Dória (PSDB), decretou quarentena até o dia 10 de maio, quando haverá nova avaliação da situação.
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