Em versões de funk atuais de sucesso, refrões já conhecidos ganham novas batidas de forró eletrônico e versos de um velho vaqueiro que inventa diálogos com Tati Zaqui, Ingryd e outras MCs.
Biu do Piseiro, cantor e produtor desses remixes de pisadinha, uma inovação do forró, é nome artístico de Guilherme Alexandre, paraibano de 23 anos. Ele nasceu em Campina Grande, mas cresceu na zona rural de Fagundes, no agreste da Paraíba.
Suas releituras de “Vem me satisfazer”, “Surtada” e outros funks ainda não estão no ranking principal, de músicas mais tocadas no país. Mas elas já se destacam na lista de virais, que ganham audiência mais rapidamente.
‘Véi’ na Kondzilla
Com o crescimento às vésperas do carnaval, Guilherme agendou 33 shows só em fevereiro. Em março, sai o clipe do remix de “Virgem” com as MCs Lya e Henny. A produtora de funk paulista Kondzilla não só autorizou as versões como vai fazer o vídeo, de olho no sucesso em potencial.
“Foi uma coisa que começou como brincadeira, com pouco recurso, produzindo no notebook”, conta Guilherme. Ele começou a tocar profissionalmente em 2016, com o nome Gui Esquema.
Batidão estilo ‘faça você mesmo’
O estilo inicial era o batidão romântico, ritmo popular na Paraíba, que revelou Aldair Playboy e seu hit “Amor falso”. Guilherme montou um projeto de batidão com irmão, mas não tinha recurso nem para pagar um produtor musical.
“Aí foi onde eu precisei aprender a produzir. Como eu ia fazer de outro jeito? Não tinha dinheiro para mandar produzir. Bases exclusivas geralmente têm preços salgadas. Como eu já tinha noção musical, fui fazer”, ele conta.
Primeiros passos na pisadinha
O projeto de batidão romântico não deu certo, mas Guilherme já tinha a experiência de produtor quando resolveu se arriscar na pisadinha, com o nome de Biu do Piseiro. Ele também tem músicas próprias, mas o que viralizou foram o funks com batida do sertão.
O estilo, também chamado de piseiro, é uma variação do forró mais eletrônica, quase toda no teclado, cujo maior representante é o duo Barões da Pisadinha.
Guilherme abraça com fervor a defesa deste tipo de forró mais simples, que chegou a sofrer preconceito por ser feito só no teclado, mas que hoje é tão popular quanto produções mais caras.
“Eu detesto banda de forró. Não tem quem me faça ouvir. Eu gosto de música sintetizada. Acho que de tanto produzir música sintetizada, peguei um ranço de banda. A não ser uma linhagem chamada de forró de médio grave, que é forró de paredão”, diz Guilherme.
Ele diz que as versões de funk não são parte de um planejamento de sucesso, mas de uma brincadeira. “Sempre fico no notebook explorando muita coisa”, ele diz. “O intuito é criar essas histórias e ser engraçado”, diz o jovem/velho Biu.