Um relacionamento que foi duradouro, teve seus momentos felizes, mas acabou de maneira inesperada, pode ganhar mais contornos problemáticos. Demitido no dia 13 de março, após uma pesada derrota do Botafogo-PB para o Santa Cruz por 3 a 0, em Recife, pela Copa do Nordeste, o técnico Evaristo Piza ainda não rescindiu o seu contrato com o clube. É que o treinador não concorda com os valores apresentados pelo Belo para que possa encerrar de vez o seu vínculo contratual com o clube.
Para o comandante, a diretoria botafoguense está descumprindo um acordo anterior, na ocasião da sua contratação – ainda na gestão do presidente Zezinho Botafogo, suspenso pelo STJD por suspeitas de manipulação de resultado, e do vice de futebol Breno Morais, banido pelo tribunal desportivo pelo mesmo motivo -, em 2018. Em Campinas desde que foi demitido, Piza revelou que não quer receber nada mais do que lhe é devido.
– Espero que tudo se resolva da melhor maneira. Eu não quero um real a mais do que eu tenho direito. Se vier algo a mais do que tenho direito eu devolvo ao Botafogo-PB, por tudo que fiz ao clube. Só quero todos os direitos do trabalhador e que seja cumprido o contrato que tínhamos, antes dos aliados de Sérgio Meira, que sempre foi a favor do meu trabalho, me mandarem embora e festejarem jogando futevôlei de calça jeans, descalço, no treinamento de sábado (antes do jogo contra o Nacional de Patos) – comentou.
A forma como aconteceu a demissão foi uma coisa que desagradou muito o comandante. Para o treinador não houve respeito da diretoria no processo da sua saída.
– Ninguém ali assume responsabilidades. Querem influenciar, opinar, mas na hora que dá errado a culpa é do Piza. Se me dessem o jogo do Nacional de Patos e eu perdesse, eu pediria demissão e estava tudo resolvido. Mas até nisso eles foram estratégicos: “Vamos tirar agora, senão ele se fortalece de novo com as vitórias com Nacional de Patos e Sousa” – disse Piza.
Clube e Piza discordam de valores
O momento da demissão e como isso foi conduzido, de fato, notoriamente é um dos fatores que mais incomodou o ex-técnico do Botafogo-PB, que culmina, agora, numa dificuldade de clube e treinador chegaram a um denominador comum para que a rescisão seja assinada.
De acordo com apuração do GloboEsporte.com, Evaristo Piza já vinha se incomodando com algumas coisas no departamento de futebol, como contratação de atletas sem consultá-lo, a falta de respaldo por parte do vice de futebol, Ariano Wanderley, e a ausência de um executivo de futebol para acompanhar o dia a dia e fazer avaliações mais precisas para a diretoria acerca do trabalho da comissão técnica.
Além da discordância por parte de Piza da forma como o clube tratou a demissão, outro fator foi preponderante para que ele negasse uma interrupção no vínculo em comum acordo, deixando claro que a escolha foi unilateral.
Representante do técnico e parceiro do Botafogo-PB, o empresário Edi Sousa vem buscando negociar com as partes. Segundo ele, havia um acordo entre a comissão técnica e o Botafogo-PB, na ocasião da sua contratação pela gestão de Zezinho Botafogo, em 2018, que consistia em que o valor acordado como salário era para toda a comissão técnica – na época, formada por Piza, Thiago Carpini e Cláudio Creato -, que entre si dividia a remuneração com critérios definidos pelos três. Nesse mesmo acordo, a multa rescisória da comissão era de duas vezes o salário da comissão.
Segundo Edi, Piza entende que na renovação, no fim de 2020, o acordo foi mantido. Mas o clube, no momento, não concorda com isso, se apegando ao fato de que, em termos legais, o único contrato que prevê multa rescisória é o de Evaristo Piza. Com isso, na visão do clube, a multa rescisória seria menor do que a que Piza entende ser a mais justa. Vale lembrar que o ex-auxiliar técnico Marcos Antônio e o ex-preparador físico Cláudio Creato também não assinaram a rescisão e também cobram seus direitos.
Dias depois da demissão, o clube enviou ao ex-técnico o que seria o cálculo da diretoria para pagar a Piza pela rescisão. O técnico se incomodou com o que chama de quebra de acordo e agora pede que todos os cálculos do contrato esportivo e do contrato pela CLT para a rescisão sejam feitos e pagos, para que o vínculo seja encerrado.
Segundo Edi Souza, que não revelou a remuneração de Piza sob a qual incide a multa rescisória, por conta de uma cláusula de confidencialidade, a demissão pode custar mais de uma folha salarial do Botafogo-PB, o que seria um grande baque na saúde financeira do clube.
– Eu acho que o clube não fez as contas. Acho que, quando você quer demitir, é preciso fazer contas. Ou então conduzir a situação para que haja uma saída em comum acordo. A gestão do Sérgio Meira é democrática. É um estilo. Ele ouve muita gente que apoia ele no clube. Acredito que o Sérgio não queria a saída do Piza. Ele queria que Piza fosse o técnico do acesso. Mas a maior parte dos seus apoiadores queria a saída. Pressionaram, e ele cedeu. Mas é preciso demitir sabendo quanto é que vai custar isso. Converso com o Sérgio constantemente e eu acredito que vamos resolver da melhor maneira possível. Ninguém quer levar essa situação para a Justiça – explicou Edi.
Botafogo-PB acredita em resolução amigável
Mirando outros nomes para assumir o lugar deixado por Evaristo Piza, o Botafogo-PB tem essa pendência com o ex-técnico ainda para resolver. E isso deve ser determinante para que o clube inicie ou não conversas com outros técnicos.
O diretor jurídico do clube, Frederich Diniz, não quis dar detalhes dos cálculos que o clube fez acerca da rescisão, mas revelou que está havendo um diálogo amistoso com os representantes de Evaristo Piza. O dirigente se diz otimista em relação ao acordo.
– Está havendo uma conversa de tom amigável. Estamos procurando conciliar os valores para se chegar a um consenso. Realmente há divergências nos valores, mas acreditamos em um acordo. Não sei o que houve, mas o advogado dele (de Piza), em um primeiro momento, requereu valores já pagos, relativos ao primeiro ano dele (de Piza) no Botafogo-PB. Pode ter havido alguma falha de comunicação. Com essa situação toda de isolamento, acredito que aconteceu algum equívoco na transmissão da informação. Nos próximos dias tudo será resolvido – garantiu o dirigente.
Com as atividades do departamento de futebol suspensas, o Botafogo-PB vem pregando paciência para escolher o seu novo técnico. Até o momento, segundo o vice de futebol do clube, Ariano Wanderley, o Belo não fez contato com nenhum técnico.
Com Globoesporte.com