Botafogo-PB e Evaristo Piza divergem em valores, e treinador ainda não assinou rescisão

Um relacionamento que foi duradouro, teve seus momentos felizes, mas acabou de maneira inesperada, pode ganhar mais contornos problemáticos. Demitido no dia 13 de março, após uma pesada derrota do Botafogo-PB para o Santa Cruz por 3 a 0, em Recife, pela Copa do Nordeste, o técnico Evaristo Piza ainda não rescindiu o seu contrato com o clube. É que o treinador não concorda com os valores apresentados pelo Belo para que possa encerrar de vez o seu vínculo contratual com o clube.

Para o comandante, a diretoria botafoguense está descumprindo um acordo anterior, na ocasião da sua contratação – ainda na gestão do presidente Zezinho Botafogo, suspenso pelo STJD por suspeitas de manipulação de resultado, e do vice de futebol Breno Morais, banido pelo tribunal desportivo pelo mesmo motivo -, em 2018. Em Campinas desde que foi demitido, Piza revelou que não quer receber nada mais do que lhe é devido.

– Espero que tudo se resolva da melhor maneira. Eu não quero um real a mais do que eu tenho direito. Se vier algo a mais do que tenho direito eu devolvo ao Botafogo-PB, por tudo que fiz ao clube. Só quero todos os direitos do trabalhador e que seja cumprido o contrato que tínhamos, antes dos aliados de Sérgio Meira, que sempre foi a favor do meu trabalho, me mandarem embora e festejarem jogando futevôlei de calça jeans, descalço, no treinamento de sábado (antes do jogo contra o Nacional de Patos) – comentou.

Piza foi apresentado em junho de 2018 — Foto: Kako Marques / TV Cabo Branco
Piza foi apresentado em junho de 2018 — Foto: Kako Marques / TV Cabo Branco

A forma como aconteceu a demissão foi uma coisa que desagradou muito o comandante. Para o treinador não houve respeito da diretoria no processo da sua saída.

– Ninguém ali assume responsabilidades. Querem influenciar, opinar, mas na hora que dá errado a culpa é do Piza. Se me dessem o jogo do Nacional de Patos e eu perdesse, eu pediria demissão e estava tudo resolvido. Mas até nisso eles foram estratégicos: “Vamos tirar agora, senão ele se fortalece de novo com as vitórias com Nacional de Patos e Sousa” – disse Piza.

Clube e Piza discordam de valores

O momento da demissão e como isso foi conduzido, de fato, notoriamente é um dos fatores que mais incomodou o ex-técnico do Botafogo-PB, que culmina, agora, numa dificuldade de clube e treinador chegaram a um denominador comum para que a rescisão seja assinada.

De acordo com apuração do GloboEsporte.com, Evaristo Piza já vinha se incomodando com algumas coisas no departamento de futebol, como contratação de atletas sem consultá-lo, a falta de respaldo por parte do vice de futebol, Ariano Wanderley, e a ausência de um executivo de futebol para acompanhar o dia a dia e fazer avaliações mais precisas para a diretoria acerca do trabalho da comissão técnica.

Além da discordância por parte de Piza da forma como o clube tratou a demissão, outro fator foi preponderante para que ele negasse uma interrupção no vínculo em comum acordo, deixando claro que a escolha foi unilateral.

Vice de futebol, Ariano Wanderley foi alvo de críticas de Piza, na sua coletiva após a demissão — Foto: Lucas Barros / Botafogo-PB
Vice de futebol, Ariano Wanderley foi alvo de críticas de Piza, na sua coletiva após a demissão — Foto: Lucas Barros / Botafogo-PB

Representante do técnico e parceiro do Botafogo-PB, o empresário Edi Sousa vem buscando negociar com as partes. Segundo ele, havia um acordo entre a comissão técnica e o Botafogo-PB, na ocasião da sua contratação pela gestão de Zezinho Botafogo, em 2018, que consistia em que o valor acordado como salário era para toda a comissão técnica – na época, formada por Piza, Thiago Carpini e Cláudio Creato -, que entre si dividia a remuneração com critérios definidos pelos três. Nesse mesmo acordo, a multa rescisória da comissão era de duas vezes o salário da comissão.

Segundo Edi, Piza entende que na renovação, no fim de 2020, o acordo foi mantido. Mas o clube, no momento, não concorda com isso, se apegando ao fato de que, em termos legais, o único contrato que prevê multa rescisória é o de Evaristo Piza. Com isso, na visão do clube, a multa rescisória seria menor do que a que Piza entende ser a mais justa. Vale lembrar que o ex-auxiliar técnico Marcos Antônio e o ex-preparador físico Cláudio Creato também não assinaram a rescisão e também cobram seus direitos.

Dias depois da demissão, o clube enviou ao ex-técnico o que seria o cálculo da diretoria para pagar a Piza pela rescisão. O técnico se incomodou com o que chama de quebra de acordo e agora pede que todos os cálculos do contrato esportivo e do contrato pela CLT para a rescisão sejam feitos e pagos, para que o vínculo seja encerrado.

Representante do técnico, Edi Souza vem mediando o debate entre clube e técnico — Foto: Reprodução
Representante do técnico, Edi Souza vem mediando o debate entre clube e técnico — Foto: Reprodução

Segundo Edi Souza, que não revelou a remuneração de Piza sob a qual incide a multa rescisória, por conta de uma cláusula de confidencialidade, a demissão pode custar mais de uma folha salarial do Botafogo-PB, o que seria um grande baque na saúde financeira do clube.

– Eu acho que o clube não fez as contas. Acho que, quando você quer demitir, é preciso fazer contas. Ou então conduzir a situação para que haja uma saída em comum acordo. A gestão do Sérgio Meira é democrática. É um estilo. Ele ouve muita gente que apoia ele no clube. Acredito que o Sérgio não queria a saída do Piza. Ele queria que Piza fosse o técnico do acesso. Mas a maior parte dos seus apoiadores queria a saída. Pressionaram, e ele cedeu. Mas é preciso demitir sabendo quanto é que vai custar isso. Converso com o Sérgio constantemente e eu acredito que vamos resolver da melhor maneira possível. Ninguém quer levar essa situação para a Justiça – explicou Edi.

Botafogo-PB acredita em resolução amigável

Mirando outros nomes para assumir o lugar deixado por Evaristo Piza, o Botafogo-PB tem essa pendência com o ex-técnico ainda para resolver. E isso deve ser determinante para que o clube inicie ou não conversas com outros técnicos.

Vice-presidente jurídico, Frederich Diniz (último da esquerda para a direita) está otimista sobre acordo — Foto: Nádya Araújo / Botafogo-PB
Vice-presidente jurídico, Frederich Diniz (último da esquerda para a direita) está otimista sobre acordo — Foto: Nádya Araújo / Botafogo-PB

O diretor jurídico do clube, Frederich Diniz, não quis dar detalhes dos cálculos que o clube fez acerca da rescisão, mas revelou que está havendo um diálogo amistoso com os representantes de Evaristo Piza. O dirigente se diz otimista em relação ao acordo.

– Está havendo uma conversa de tom amigável. Estamos procurando conciliar os valores para se chegar a um consenso. Realmente há divergências nos valores, mas acreditamos em um acordo. Não sei o que houve, mas o advogado dele (de Piza), em um primeiro momento, requereu valores já pagos, relativos ao primeiro ano dele (de Piza) no Botafogo-PB. Pode ter havido alguma falha de comunicação. Com essa situação toda de isolamento, acredito que aconteceu algum equívoco na transmissão da informação. Nos próximos dias tudo será resolvido – garantiu o dirigente.

Com as atividades do departamento de futebol suspensas, o Botafogo-PB vem pregando paciência para escolher o seu novo técnico. Até o momento, segundo o vice de futebol do clube, Ariano Wanderley, o Belo não fez contato com nenhum técnico.

Com Globoesporte.com