Tudo começou em 2019, quando uma foto de Breno Morais, já afastado pela Justiça do seu antigo cargo no Botafogo-PB, vice de futebol, em virtude de acusações de manipulação de resultados no ano anterior, começou a circular nas redes sociais em janeiro, em grupos do futebol paraibano. As mensagens acompanhadas de uma imagem de Breno numa das cabines do Estádio Almeidão diziam que o ex-dirigente botafoguense tinha assistido a um jogo do Belo de dentro da praça desportiva. Isso seria um grave descumprimento a uma das medidas cautelares impostas pela Justiça, que poderia até resultar em uma prisão preventiva do dirigente, àquela altura já respondendo criminalmente pelas acusações. De fato, não passava de uma fake news. Foi o bastante para estremecer a tão exaltada família botafoguense, que agora tem situação e oposição, e críticas de parte a parte.
Breno Morais achou que o clube deveria se posicionar oficialmente contra a difusão da fake news que ganhava as redes sociais com uma versão inverídica e que chegou até a alguns portais de imprensa, que noticiaram a suposta desobediência jurídica como sendo fato. A diretoria do Botafogo-PB, no entanto, em mais uma escolha de não atender os desejos de Breno, achou por bem não se meter. E, dessa vez, não saiu em defesa do seu ex-dirigente.
A escolha incomodou bastante Breno Morais, que era até 2018 a principal liderança do clube. Com Sérgio Meira alçado a presidente justamente porque diversos dirigentes acabaram sendo denunciados na Justiça e afastados do clube, Breno começou a perder força. Mas, de fato, o estopim do racha acabou sendo esse episódio narrado.
Em nota oficial, divulgada nessa segunda-feira, Breno Morais admite que esse momento foi crucial para que ele e seu grupo definitivamente ficassem à margem do clube. Não só à margem. Ele virou oposição e, desde o fim do ano passado, encerrou o seu silêncio para bradar críticas à atual gestão, a quem chama de temerária e pouco responsável em termos financeiros.
– O fim da união de muitos anos no clube, da qual Sérgio Meira é o culpado, se deu porque ele e o seu ego, inflado por alguns de seus atuais diretores, não aceitaram um simples pedido de posicionamento público do clube diante de uma das tantas fake news publicadas por quem trabalha para sabotar o Botafogo. A ingratidão e a vaidade começaram o desgaste, mas a ruptura se deu quando Sérgio Meira, embevecido pelo poder, deixou de ouvir os que têm experiência em gerir o clube com a sabedoria dos erros passados, para ouvir os que nunca tinham sequer assumido cargo executivo em clube de várzea, que dirá em um profissional, sendo este o maior da Paraíba – analisou.
A oposição não só tem proferido discursos ásperos como também vem agindo institucionalmente. O conselheiro Afonso Guedes, membro da oposição, por exemplo, requereu junto ao Conselho Deliberativo que a diretoria do clube divulgasse a lista de Sócios Contribuintes aptos a votar nas próximas eleições, que tende a ter duas chapas concorrentes.
Outro conselheiro, Alexandre Almeida, filho de Breno Morais, foi ainda mais longe e pediu o afastamento do mandatário botafoguense, com base na Lei Pelé, por conta do descumprimento do prazo da atual gestão de publicar, até 30 de abril deste ano, os balanços financeiros do exercício de 2019. Vale lembrar que a oposição, que já comandou o clube, também falhou nos prazos de divulgação dos balancetes; no entanto, nessa época, não havia oposição no Botafogo-PB. Nessa segunda-feira, à Rádio Tabajara, Breno Morais fez uma análise sobre essa possível incoerência.
– O conselheiro Alexandre, que é meu filho, não está pedindo nada mais do que o cumprimento da lei. Lá diz que os dirigentes podem ser afastados se não houver a prestação de contas. Se antes não tinha oposição no Botafogo-PB, agora tem – avaliou.
Na sua nota enviada à imprensa, Breno Morais também faz outras observações sobre a gestão atual e sobre a atuação da oposição. Confira abaixo a íntegra.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Nenhum ódio é justificável. A minha conduta, nesta nova fase da vida, não permite espaço para construir relações a partir do ódio. Mas também não sou covarde, não costumo me esquivar das responsabilidades ou ser indiferente diante de discursos bonitos, que rendem manchetes eloquentes, que maquiam a realidade e escondem os verdadeiros problemas do Botafogo.
Toda as medidas adotadas pelo grupo de oposição do qual faço parte, grupo esse formado única e exclusivamente pela vaidade do atual presidente inflada por alguns de seus atuais diretores, são pautados pela extrema preocupação diante de uma administração temerária ao futuro do clube.
Trabalhamos muito para chegarmos no que somos hoje e não queremos ver um trabalho de década, de várias mãos, de pessoas que até nos deixaram, ser destruído por ego e vaidade de um grupo que está aprendendo a base de erros graves o que nós já sabemos há muitos anos.
Desde que comecei a participar da gestão do Botafogo, a convite de dois antigos conselheiros do clube em 2007, nunca me coloquei em condição de protagonista, nunca assumi postura de buscar holofotes na mídia ou de usar o clube como uma plataforma de lançamento para algum projeto político pessoal. Tanto é que nunca fiz questão de ser presidente do clube.
Pelo contrário, desde que passei a somar forças junto a outros abnegados, ganhei um teto de vidro para ser alvo de pedras, da ira de torcedores em campanhas ruins e das ilações maldosas de quem fez menos e nunca aceitou que eu pudesse ajudar o Botafogo a crescer. Reconheço meus erros nas gestões que fiz parte, excessos que me fizeram repensar o modelo de clube, e idealizar um novo Botafogo para o futuro.
No novo Botafogo não cabe a falsa modernidade que rende manchetes positivas em um primeiro momento, mas que se transformam em fake news quando a realidade vem à tona, ou de decisões administrativas que só rendem notícia, mas não geram melhoria de fato.
Meu trabalho no Botafogo sempre foi feito independente do reconhecimento. Todas as decisões tomadas por mim enquanto estive integrando as gestões passadas foram pelo bem do clube, jamais em proveito próprio ou de terceiros. Por isso me preocupa quando o clube, em toda sua grande História de 88 anos de existência, passa a ser usado por diretores como vitrine de projetos políticos, de poder.
Fui parte do melhor e mais glorioso período de união do Botafogo, deixei diferenças de lado e mostrei que é possível tornar o Botafogo ainda maior quando se trabalha com seriedade, profissionalismo e responsabilidade. Durante o período de união, sempre convivi com as discordâncias internas, tanto que as decisões tomadas nas gestões passadas eram fruto de debates e reuniões entre aqueles que integravam a diretoria executiva.
Fui convidado a participar da gestão do clube por todos os ex-presidentes desde que comecei a trabalhar pelo Botafogo. Sou chamado de agressivo, mas como seria se todos os últimos gestores me quiseram participando na diretoria executiva?
Trabalhei com mais de 500 jogadores, mais de 10 treinadores. Com quase todos a relação é de respeito, apesar de algumas discordâncias, o que é natural. Ajudei a construir uma imagem sólida de credibilidade do Botafogo no mercado do futebol, a imagem de um clube vencedor.
Sérgio Meira chegou à presidência do clube pela indisponibilidade de todas as outras pessoas que geriam o clube até 2018. Não houve pressão, houve oportunidade. E da oportunidade, se fez o oportunismo. Sérgio já tinha assumido cargos executivos antes, inclusive o de secretário de esportes de João Pessoa, e concorrido como candidato a vereador, um desejo recorrente, aliás.
O fim da união de muitos anos no clube, da qual Sérgio Meira é o culpado, se deu porque ele e o seu ego, inflado por alguns de seus atuais diretores, não aceitaram um simples pedido de posicionamento público do clube diante de uma das tantas fake news publicadas por quem trabalha para sabotar o Botafogo.
A ingratidão e a vaidade começaram o desgaste, mas a ruptura se deu quando Sérgio Meira, embevecido pelo poder, deixou de ouvir os que têm experiência em gerir o clube com a sabedoria dos erros passados, para ouvir os que nunca tinham sequer assumido cargo executivo em clube de várzea, que dirá em um profissional, sendo este o maior da Paraíba.
Não tenho obsessão alguma na pessoa do atual presidente do Botafogo, mas meu compromisso, com o legado deixado no clube, e, principalmente, com a verdade, me colocam como mais um dos integrantes do grupo de oposição à gestão temerária de Sérgio Meira e seus diretores, mas jamais serei um oposição ao Botafogo Futebol Clube.
Se opor aos erros da atual gestão é se preocupar com o clube. O Botafogo é grande, e todos nós vamos passar, mas o clube vai permanecer. Nós somos muito pequenos em relação ao que é o Botafogo da Paraíba.
O tempo vai mostrar quem tem a mentira como arma política, quem trabalha com responsabilidade financeira no clube e quem verdadeiramente tem compromisso com o Botafogo.
Breno Morais Almeida