César Menotti, técnico campeão mundial em 78, defende futebol com público na Argentina

Em um momento em que o futebol mundial está praticamente parado, sem as principais ligas, sem as grandes estrelas em campo e sem a paixão nas arquibancadas, revisitar o passado se tornou um divertido e prazeroso passatempo. Ainda mais quando temos a possibilidade de ouvir os atores principais de momentos marcantes da historia do futebol.

Foi por telefone, nada de Skype ou Zoom, que o homem que tirou a Argentina da seca em Mundiais atendeu o nosso convite para uma entrevista sobre a Copa de 78. “Mas tem que ser por aqui, porque não sei usar essas coisas que você está me falando” respondeu César Luis Menotti, técnico campeão do mundo pela seleção argentina.

Menotti está com 81 anos, recluso em sua casa, respeitando as normas de isolamento social impostas pelo governo argentino.

– Tô tentando suportar, porque é muito triste. Dar conta dessa tristeza que estamos vivendo é algo impossível, então fazemos o que a gente pode.

Cesar Luís Menotti (à direita) cumprimenta o presidente da AFA, Claudio Tapia — Foto: Twitter/Selección Argentina
Cesar Luís Menotti (à direita) cumprimenta o presidente da AFA, Claudio Tapia — Foto: Twitter/Selección Argentina

– O futebol pertence às pessoas, os jogadores são os artistas, mas o futebol pertence ao povo – afirmou.

– O que seria um jogo entre Argentina e Brasil sem ninguém no estádio? Seria algo horroroso. Sem público podem jogar solteiros contra casados, mas se não há público não há futebol.

O Brasil faz parte da história de Menotti. Na década de 60 ele morou por um ano e meio no país, jogou ao lado de Pelé no Santos, tem a seleção de 70 como uma inspiração e afirma que a Copa do Mundo só se tornou o evento que é hoje em dia graças ao então camisa 10 do Brasil.

– A figura, a aparição do Pelé faz com que a Copa passe a ser mais popular, faz com que as pessoas se sintam mais próximas das seleções.

Por sinal, Menotti fez questão de mandar uma mensagem de carinho para Pelé e outros ex-companheiros de Santos.

– Queria mandar um enorme abraço pro Pelé, espero que esteja melhor de saúde.

– Também há outro jogador que quero muito, com quem compartilhei muitas alegrias, que é o Clodoaldo. E a todos os jogadores do Santos dessa época, como o Pepe. Joguei muitos jogos com Pepe e Coutinho. Fico sempre muito feliz quando lembro dessa época, principalmente lembrar desse time que para mim é o melhor de todos.

A passagem de Menotti pelo “melhor time da história” foi curta, durou apenas seis meses. Tempo suficiente para conquistar o título de campeão paulista de 68. No ano seguinte defendeu o Juventus da Mooca, onde se aposentou como jogador. “Eu falo, falo, falo um pouco. Não falo muito” respondeu Menotti, com um sotaque que nos faz sentir nas praias de Búzios ou de Balneário Camboriú, quando perguntado se ainda fala português.

A Copa de 70, ele assistiu já como ex-jogador, quando se preparava para iniciar a carreira de técnico.

– Eu fui testemunha do Mundial de 70 que o Brasil conquistou. Tinha uma relação muito boa com o Carlos Alberto, com o Clodoaldo, com o Edu e principalmente com o Pelé. E essa Copa ficou marcada no meu coração. O meu hotel era próximo do hotel da seleção do Brasil. E essa conquista brasileira serviu para me dar forças, para plantar a ideia de uma conquista da Argentina no futuro.

Não demorou muito. Oito anos depois era o time comandando por Menotti quem erguia a taça de campeão do mundo. Uma seleção sem grandes figuras, tendo em Passarela e Mario Kempes os grandes nomes daquela conquista. Maradona aos 17 anos não foi convocado. No ano seguinte comandando a seleção sub-20 e com Diego em campo, Menotti foi campeão do mundo mais uma vez.

Apesar de toda a admiração que tem pelo futebol brasileiro, pelo Brasil e o carinho com os ex-companheiros de Santos, há um assunto que enfurece Menotti, as acusações feitas pelos brasileiros de que o jogo contra o Peru estava comprado pela a Argentina.

– É uma estupidez! Nem aceito o comentário, porque é muito miserável sugerir ou comentar sobre a honestidade de um jogador.

– É muito miserável dizer que a seleção do Peru entregou o jogo. Aos dez minutos de partida poderíamos estar perdendo por 2 a 0. Começa o jogo e aos 5 minutos acertaram uma bola na nossa trave. Foi um jogo difícil em seus primeiros minutos. Até que a Argentina marcasse o primeiro, foi um jogo muito duro e muito difícil, inclusive com os peruanos merecendo ganhar no início.

Globoesporte.com