Eleito prefeito de João Pessoa, pela terceira vez, em 2020, Cícero Lucena, do Partido Progressistas, afirmou em entrevista ao colunista Nonato Guedes, do Os Guedes, que está firme no compromisso de apoio à candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) no pleito do próximo ano. Para ele, sua posição não poderia ser outra, tendo em vista que na campanha do ano passado, em que saiu vitorioso, contou com o apoio decidido do chefe do Executivo nos dois turnos. Deixou claro que, para ele, lealdade é ponto de honra e, como tal, deve ser respeitada, o que, acredita, combina com seu perfil e sua trajetória na vida pública. Além do mais, ressalta o prefeito, a parceria administrativa com o governador tem oferecido resultados favoráveis ao seu plano de metas, com sincronia em grande parte nas estratégias e políticas públicas adotadas em benefício da população de João Pessoa.
Cícero, por óbvio, não se deteve em maiores comentários a respeito de uma provável candidatura própria do PP ao governo, que seria encabeçada pela senadora Daniella Ribeiro. Salienta que, em termos concretos, o fato não está colocado em discussão, inclusive porque a prioridade administrativa, sobretudo no enfrentamento ao coronavírus, com aceleração da campanha de vacinação dos grupos sociais, inibe tratativas tendo como pano de fundo a conjuntura política-eleitoral do próximo ano. Ainda assim, ele se permite admitir que seria legítimo ao PP pleitear espaço na chapa majoritária que será comandada por João Azevêdo, sem mencionar, porém, nomes ou cargos. Talvez estivesse se referindo à vice-governança, que é objeto de especulações e de pretensões em outros partidos da base e por parte de demais aliados de Azevêdo, como o senador Veneziano Vital do Rêgo, na condição de presidente do diretório estadual do MDB, que igualmente se anuncia comprometido com a candidatura de Azevêdo à reeleição.
Para a vaga de senador, na composição liderada pelo atual governador, já se apresentou como pré-candidato o deputado Efraim Filho, do Democratas, que conseguiu declarações de apoio de deputados federais de outros partidos, independentemente do compromisso de apoio à reeleição de Azevêdo, e do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB). Até então, analistas políticos têm trabalhado com a hipótese de uma eventual candidatura da senadora Daniella Ribeiro ao governo do Estado em 2022. Ela foi a primeira mulher eleita senadora na história política do Estado, pertence a uma família tradicional influente e tem uma atuação dinâmica, que a colocou recentemente na lista de nomes cotados para a sucessão de Davi Alcolumbre na presidência do Senado. Daniella, a bem da verdade, não se articulou para isso e, no final das contas, compôs-se com a candidatura do presidente eleito, Rodrigo Pacheco, do DEM-MG. De resto, o PP abocanhou a presidência da Câmara dos Deputados, ainda que o eleito, Arthur Lira, não tivesse tido o voto de Aguinaldo Ribeiro, irmão de Daniella e que era ligado ao grupo do ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia.
Aguinaldo, inclusive, está sendo retaliado agora por Arthur Lira, com a sua destituição da relatoria do projeto de reforma tributária, que está no radar do Congresso Nacional há bastante tempo e que não foi objetivamente pautado para votação, diante de divergências em aspectos pontuais que demandam consenso, a ser tentado agora na nova versão que o texto deverá finalmente ganhar. Em termos de alinhamento político no plano federal, em tese, tanto Aguinaldo como a irmã senadora Daniella são considerados da base do presidente Jair Bolsonaro, ainda que exercendo posição crítica ou independente em determinadas matérias avaliadas como controversas. Cícero Lucena está num partido que, em caso de polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial de 2022 tende a ficar majoritariamente com o atual presidente. As incompatibilidades com o PT são maiores, ainda que Aguinaldo tenha sido ministro das Cidades na gestão de Dilma Rousseff. Aquilo, porém, foi fruto de uma concertação episódica, com fins táticos, dentro do Congresso. Aguinaldo acabou votando pelo impeachment de Dilma, para decepção desta.
O PP é uma agremiação que, em termos de Paraíba, carece de homogeneidade no campo de alianças eleitorais. No pleito municipal do ano passado, por exemplo, enquanto aceitou o apoio de João Azevêdo à candidatura de Cícero em João Pessoa, o partido, em Campina Grande, aliou-se a Romero Rodrigues (PSD), grande aliado de Bolsonaro, e ao “clã” Cunha Lima, do PSDB, também afinado com o governo federal. Lucas, filho de Daniella, é o vice-prefeito da cidade, tendo integrado a chapa encabeçada por Bruno Cunha Lima (PSD). O governador João Azevêdo declarou apoio, na Rainha da Borborema, à candidatura de Ana Cláudia Vital do Rêgo, mulher do senador Veneziano, que ficou em segundo lugar, a uma boa distância de Bruno, o vencedor em primeiro turno. Foi dito, na época, a título de justificativa, que cada realidade local era específica e, como tal, deveria ser tratada.
A realidade estadual mexe com outros interesses, mais ampliados, de maior repercussão, sem sombra de dúvidas. Daniella é um nome respeitado pelo seu poder de articulação e pelo prestígio que demonstrou nas urnas ao conquistar vaga ao Senado em 2018, enquanto o ex-governador Cássio Cunha Lima, que era favorito, ficou lá atrás no “pódium”. A senadora, inclusive, numa das vezes em que comentou a sucessão estadual futura, admitiu que poderia vir a se candidatar ao governo se houvesse uma convocação ou, quem sabe, uma concertação que sinalize favoravelmente. Como Daniella não avança nas demarches para se firmar como opção ao governo, políticos do PP como o prefeito Cícero Lucena sentem-se à vontade para declarar apoio, por exemplo, à candidatura do governador João Azevêdo à reeleição, o que é um gesto compreensível de retribuição. Cícero, provocado pelo colunista, confessou que não está participando, por ora, de discussões políticas dentro do PP.
Mas pareceu enfático quando disse acreditar que na hora oportuna será consultado para opinar sobre os rumos que o partido deve tomar nas eleições de 2022. E, na sua vez de falar, dirá que, pessoalmente, defende o apoio à candidatura de João Azevêdo.
Os Guedes