O novo vice de finanças do Flamengo, Rodrigo Tostes, assume com o objetivo de aumentar as receitas do clube. E as dificuldades podem ser mais políticas do que técnicas. Para ter sucesso, Tostes precisa da colaboração de áreas que extrapolam a sua pasta, como marketing, comunicação, relação com sócio torcedor e esportes olímpicos.
Por que este é o maior desafio? Porque foi justamente por se sentir isolado das principais decisões do clube que o ex-responsável pelas finanças Wallim Vasconcellos pediu demissão.
Tostes vai continuar morando nos Estados Unidos até dezembro, onde se dedica à vida acadêmica. A ausência no dia a dia da Gávea não preocupa os dirigentes do Flamengo. Na visão deles, quem precisa estar presente na rotina do clube é o diretor da pasta Márcio Garotti, que exerce a função desde 2017. Em conversas com a cúpula rubro-negra, Tostes se comprometeu a estar no Rio com frequência, cidade para a qual já viaja com regularidade, mesmo estando no exterior.
Mas não somente Garotti será importante para que o aumento de receitas seja uma realidade no clube. Será necessário, também, uma maior participação do CEO, função hoje exercida por Reinaldo Belotti. É dele a obrigação de fazer os setores se comunicarem e de fazer a gestão direta das diretorias.
O tão falado jogo de “igual para igual” do Rubro-Negro contra o Liverpool na final do Mundial de Clubes não teve um caractere em inglês ou espanhol. Perdeu-se a colheita que o campo poderia trazer. E este é só um exemplo. Tostes vai precisar de apoio para mudar o comportamento e os procedimentos da atual gestão.
Na rápida estadia no Rio, na última semana, o novo VP de finanças conversou com alguns membros da diretoria e, especialmente, com representantes da Ernst Young, que acaba de concluir auditoria nas contas do clube. A empresa vai entregar em breve o resultado da análise, mas quem leu o relatório preliminar garante que não há grandes alarmes em relação à condução das finanças rubro-negras.
Em conversas no clube, Tostes se mostrou cuidadoso em frear o excesso de otimismo em relação às finanças. Embora pareça, o céu não está de brigadeiro, isto é, não é um cenário sem riscos. Esta é a sua análise. O clube está saudável, ou seja, consegue arrecadar a ponto de manter seus compromissos financeiros em ordem, mas ainda há um longo caminho a trilhar para que o pesadelo vivido pré-2013 não retorne à Gávea.
Passivo que o novo VP conhece bem. Ele fez parte do início da gestão de recuperação do Flamengo, que em 2013, pegou o clube com uma dívida, não equacionada, isto é, sem previsão de pagamentos, da ordem de R$ 750 milhões. Hoje, o passivo é pago em dia. Ainda faltam cerca de R$ 500 milhões.
Entre os pontos mais falados pelo novo vice na semana em que esteve no Rio, está um aumento da receita em todos os setores. A relação com o sócio-torcedor é uma das mais promissoras para isso e tem muito a melhorar. A visão de Tostes é que o clube tem um enorme potencial, ainda muito pouco explorado, de aumento de receita. E grande parte deste plano passa por um melhor uso da relação com os associados.
Para executar seu plano, Tostes precisará ser chamado a participar de todas – ou pelo menos, das principais – decisões do clube, oportunidade que o ex-vice de finanças afirma não ter tido. Em seu texto de despedida, Wallim Vasconcellos afirmou que “raramente” pôde discutir ou participar de temas que afetaram “diretamente o caixa e os compromissos financeiros do clube”.
“Além disso, tenho a certeza que podemos e temos que melhorar em algumas áreas, alvos de justas críticas por parte dos nossos torcedores e da imprensa. Sem investir em pessoas e contratar empresas muito qualificadas, nosso crescimento estará limitado.”
No caso específico da pasta de finanças, a responsabilidade do vice-presidente de um clube do tamanho do Flamengo é imensa e requer participação na discussão e na decisão dos temas que afetam diretamente o caixa e os compromissos financeiros do clube, o que raramente ocorreu em 2019.
Atualmente, a expectativa de receita do clube para 2020 é de R$ 726 milhões, impulsionada na maior parte por vendas de atletas. Ela é menor do que a de 2019, alavancada sobretudo pela venda de Paquetá (gestão anterior) e dos atletas Léo Duarte e Cuellar. Ano passado, o clube vendeu R$ 300 milhões. Este ano, o orçamento prevê R$ 80 milhões, mas o andamento da temporada já mostra que o clube poderá superar.