Recentemente a esquerda se uniu em torno da premiação do Oscar do filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, que retrata a história autobiográfica de Marcelo Rubens Paiva com enfoque na vida de sua mãe, Eunice Paiva, uma advogada que acabou se tornando ativista política após a prisão e consequente desaparecimento de seu marido.
Sem razão, nem porquê, o filme dividiu os brasileiros, fazendo com que integrantes da direita tecessem críticas a trama, ou simplesmente ignorassem a conquista do Brasil. Como ação política, a esquerda abraçou o filme.
Sem filme para representá-los, a direita ficou órfã de acontecimentos que pudessem unificar seus representantes, até que surge Freio Gilson, que tem sofrido ataques frequentes de internautas de esquerda, que passaram a ofendê-lo com termos como “fascista”, “negacionista”, “oportunista”, entre outros. Prato cheio para a direita.
Bolsonaro, Níkolas Ferreira, Tarcísio de Freitas, Cleitinho e companhia limitada iniciaram uma campanha em defesa do Frei Gilson, unificando toda a direita; até mesmo quem nunca assistiu a um dos momentos de oração com o religioso, ou sequer frequente a igreja católica. Sim. Frei Gilson está sendo usado pela direita, como Fernanda Torres tem sido usada pela esquerda. Mas é fácil entender o que acontece.
Todo projeto político ideológico sobrevive de causas e lutas; quando não há, é preciso inventá-las. É assim que se alimenta uma militância fervorosa, e mantém as bases ativas.
E mais uma vez, sem razão, nem porquê, lá está o Brasil dividido. E assim caminhamos para as eleições 2026.
Precisamos viver a ideia de que a história e a arte não pertencem a esquerda, nem a direita. A religião também não. Aplaudir uma conquista do Brasil, mesmo que envolva alguém de esquerda, não me faz ser de esquerda. Ser religioso, não me faz ser de direita.
A pergunta final é; quando deixamos de ser racionais.
Para fundamentar, compartilho pensamentos de importantes filósofos e pensadores:
Antonio Gramsci (1891-1937) – O teórico marxista italiano explicou como grupos políticos constroem hegemonia cultural. Para ele, as ideias dominantes são mantidas por meio da cultura, da mídia e da religião, o que ajuda a entender como direita e esquerda se apropriam de símbolos e causas para mobilizar suas bases.
Hannah Arendt (1906-1975) – Em Origens do Totalitarismo, Arendt analisa como narrativas ideológicas criam realidades paralelas, levando a divisões artificiais na sociedade. O seu conceito de “pensamento crítico” reforça a necessidade de evitar cair em polarizações cegas.
George Orwell (1903-1950) – Em 1984, Orwell denuncia a manipulação da verdade por meio da política e da mídia, algo que pode ser relacionado ao modo como grupos políticos constroem “heróis” e “vilões” para suas narrativas.