O Flamengo conquistou quase tudo no profissional em 2019, mas a base segue sendo celeiro de craques e fonte de receitas nos últimos anos. Nomes como Vinicius Junior, Paquetá e Reinier são inspirações para o clube manter o investimento na formação e apostar em novos talentos. Um deles está maduro para subir: Yuri César, de 19 anos, vai disputar a Taça Guanabara. A expectativa é que siga no elenco principal, sob o comando de Jorge Jesus, para a temporada de 2020.
Multicampeão com o Sub-20, Yuri foi um dos protagonistas do time de Maurício Souza, que conquistou Campeonato Carioca, Brasileiro, OPG e Supercopa do Brasil no segundo semestre. Vice artilheiro do Flamengo na categoria nesta temporada, com 15 gols, o camisa 10 costuma atuar pelo lado esquerdo do ataque, apesar de destro. A joia apresenta suas características.
– Foi um ano muito bom. Vivi meu melhor ano desde que cheguei no Flamengo. Estou muito feliz por tudo o que conquistamos. Meus pontos fortes são a técnica, a velocidade, o drible, o um contra um. A torcida já me conhece um pouco. Agora, é só mostrar dentro de campo.
Dedicação, Yuri tem de sobra. Na reta final do Campeonato Brasileiro Sub-20, ele sofreu uma lesão no joelho direito, com previsão de retorno de três semanas. Com isso, perderia a decisão. No entanto, antecipou sua volta e participou do confronto decisivo com o Palmeiras, marcando o gol que abriu caminho para a vitória por 3 a 0 no jogo do título.
– Tive uma lesão de joelho antes da semifinal. Não sabia se conseguiria voltar para as finais. Tratei e pedi para os médicos acelerarem o processo para eu poder jogar pelo menos o segundo jogo. Deu tudo certo e graças a Deus fui muito feliz.
Natural de Volta Redonda, Yuri começou no futebol incentivado pelo pai, ex-jogador de futebol amador, que tentou a sorte, sem sucesso, no Vasco. Ainda criança, precisou superar a morte do pai. O jovem não desistiu e seguiu sua trajetória nas quadras e nos campos.
Fez uma homenagem. Eternizou o número 7 com uma tatuagem no braço, uma lembrança da camisa que o pai usava nos tempos de jogador.
Confira o bate-papo com a joia do Flamengo
Pronto para jogar o Carioca pelo profissional?
Estou preparado. Me preparei o ano todo. Fiz um grande ano e me preparei muito bem para essa oportunidade no início de 2020.
Como está vendo a possibilidade de jogar o Carioca? Como todos na base estão avaliando essa chance?
Estão todos animados. É a oportunidade de mostrar para nossa torcida e para todos que estarão nos assistindo. A base do Flamengo vem muito forte. Será uma oportunidade grande para todos no clube.
O planejamento, em princípio, é que você suba e fique no profissional. Recentemente, o Eduardo Freeland (gerente da base) disse que o nível do time principal eleva o sarrafo na base. Vocês sentem que precisam subir ainda mais preparados?
O time de cima tem muita qualidade, e é difícil jogar. Ainda mais agora, com todo mundo vencendo e vivendo um momento muito bom. Temos que nos preparar bastante. É o que a gente tem feito ao longo do ano. Estamos nos preparando e ganhando para quando surgirem as oportunidades.
Você joga com a camisa 10, mas tem atuado no lado esquerdo do ataque. É a posição que você realmente gosta ou pode fazer outras funções no ataque?
Gosto de jogar pela esquerda, porque corto para dentro, acho passes, finalizo. Mas também gosto de jogar no meio. Acho que tenho mais liberdade para jogar. Penso muito rápido e solto a bola. Jogando na ponta me destaco mais, mas também posso jogar centralizado.
Você se inspira em algum jogador?
Gosto muito do Philippe Coutinho. A função dele é parecida com a que eu faço no Flamengo. Que é cair pela esquerda, cortar para dentro, achar um passe, finalizar. São características bem parecidas.
Você tem outra característica do Coutinho que é cobrar faltas.
Sempre fui batedor, é algo que treino muito.
O Flamengo está há mais de um ano sem marcar um gol em cobrança de falta. O último foi em junho de 2018, de Diego, contra o Paraná.
Seria um sonho. Quem sabe surge a oportunidade quando eu estiver em cima?
Vai pedir para Diego, Arrascaeta e Everton Ribeiro darem licença para você cobrar? (risos)
(Gargalhada) Vamos ver.
A sua posição está concorrida. Além do Bruno Henrique e do Vitinho, agora chegou o Pedro Rocha.
Tenho que saber jogar também nas outras posições para quando surgir a oportunidade.
Você participou de alguns treinos do elenco profissional neste ano. Como foi trabalhar com Jesus, teve algum papo reservado com ele?
Treinei. Ele é um bom treinador, todos conhecem. Tive a oportunidade de treinar e fui relacionado para dois jogos também (foi relacionado contra o CSA, por Marcelo Salles, e em 2018, contra o Atlético-MG, por Maurício Barbieri). Deu para sentir que ele é um treinador diferente. Ele exige muito dos jogadores. Pede velocidade e inteligência dentro de campo. Os treinos são bem diferentes, muito pegados, ele participa do aquecimento.
O Maurício Souza, técnico do Sub-20, é quem vai comandar o time no início do Carioca. É um cara que te conhece bem.
Ele me conhece e certamente vai me passar mais confiança para jogar em cima. Vai ser uma ótima oportunidade, vou chegar confiante, com um treinador que conheço. Sei como ele gosta de jogar, como ele gosta que a gente se comporte em campo. Vai ser bom não só para mim, mas para outros jogadores.
Quer jogar a Copinha?
Estou preparado para jogar. Se você está no Flamengo tem que estar preparado. Mas eu quero muito jogar o Campeonato Carioca. Isso depende do clube, mas estou preparado para os dois.
Como você começou a jogar bola e chegou ao Flamengo?
Comecei a jogar com o meu pai, ele me levava para o campo desde os cinco anos. Sempre fui apegado à bola. Com sete, oito anos comecei na escolinha do meu bairro, em Volta Redonda. Aí fiquei só no futsal até os 12 anos. Em 2009, fiz um teste no Fluminense e passei. Mas não tinha condições de ir e voltar e larguei. Fiquei somente no futsal em Volta Redonda. Pintou um jogo contra o Flamengo, na Gávea, quando eu estava com nove anos. Vim jogar contra o Flamengo, gostaram e fiz um teste. Fiquei até os 11 anos no salão e depois fui para o campo.
Vai subir para o profissional para ficar?
Tomara. Deus queira que eu fique.
As últimas “Joias do Flamengo” no GloboEsporte.com foram Vinicius Junior, Jean Lucas e Reinier. A responsabilidade é grande.
Eu trabalho para isso. Ouvir elogios é muito bom e gratificante. Estou muito feliz com essa oportunidade de estar sendo visto.
Além de você, que outros jogadores do time sub-20 aposta que terão sucesso no profissional?
Gosto de muitos, de todos, mas tenho muita admiração pelo Wendel, pelo Luiz Henrique. O Matheusinho, que chegou agora, também é diferente. A base do Flamengo tem muita qualidade, mas esses três são os que mais me impressionam dentro de campo
Você teve o contrato renovado dois anos seguidos. A última renovação, em agosto, com muta de € 50 milhões e vínculo até o fim de 2023.
É muito bom, fruto do meu trabalho. Estou mostrando meu futebol e cada vez mais sendo valorizado no clube. Isso é muito bom para mim, fico muito feliz.
Planos para 2020?
Sempre quis jogar no Flamengo, fazer história no clube. Mas no futebol tudo pode acontecer. Vou seguir trabalhando dentro do clube, e as coisas vão acontecer.