Juan vive ano mágico de forma diferente, fala sobre Jesus e primeiro arrependimento de ex-jogador

Aos 40 anos, Juan tem ligação com o Flamengo desde o berço. Ainda criança era levado pelo pai, seu Roberto, aos jogos do time de coração. O menino cresceu, virou jogador de alto nível, foi para Europa e seleção brasileira e, em 2016, voltou para encerrar a carreira onde tudo começou.

Juan atuou pela última vez na estreia do Flamengo no Brasileiro contra o Cruzeiro, em 27 de abril, mas permaneceu no clube onde faz uma espécie de estágio acompanhando todos os processos do dia a dia do time.

Com o ano mágico do Rubro-Negro, Juan confessa que quando olhava o Maracanã por alguns segundos batia a vontade de calçar as chuteiras e ir para o jogo. Mas nada que o fizesse sofrer.

Nesta entrevista realizada em Doha, Juan fala sobre os oito meses pós-aposentadoria e como é acompanhar de perto o trabalho de Jorge Jesus:

– Ele quebrou paradigmas, e realmente revolucionou o futebol brasileiro.

Como está sendo esse ano para você?

Foi um ano que eu sabia que seria especial, pois já tinha decidido que seria o da despedida. Já comecei aproveitando os últimos momentos e também correndo contra o tempo por causa da minha lesão. Mas acho que se perguntasse nem o mais otimista torcedor imaginava que seria desse jeito. Não só pelas conquistas, mas pela performance.

Juan Flamengo em Doha — Foto: Cahê Mota
Juan Flamengo em Doha — Foto: Cahê Mota

E a experiência fora das quatro linhas?

Não tenho um cargo específico, aprendo em todas as áreas. Tenho liberdade, vejo o CEP (Centro de Excelência em Performance) com o doutor Tannure. Se bem que no fim da carreira você se machuca tanto que aprende que meio forçado. Também dirigentes, aprendo como é outro lado. Também faço curso online, passo pela base. Pela minha imagem ser como uma referência para os mais novos. Está muito legal, sou muito grato ao Flamengo. Acabo coroado com esses títulos.

Nesses seis meses já conseguiu identificar com qual função se identifica mais?

Estou procurando, mas acho que a parte técnica que me dá mais prazer. Ver os processos de movimento de jogadores, ajudar no processo de formação de jogadores.

Você começou o ano como jogador, se sente campeão brasileiro, da Libertadores?

Joguei muito pouco, não é uma coisa que me gabarite como campeão brasileiro, mas pelo envolvimento que tenho com jogadores, a identificação com o clube, você acaba se sentindo também. As conquistas da Libertadores e Brasileiro foram as realizações de um grupo.

Esse Flamengo vinha se desenhando há um tempo. Esse alicerce te faz acreditar que os próximos anos também serão de conquistas?

Esse ano agora também serviu para valorizar o que foi feito nos anos anteriores, pois foi campeão agora, mas foi um processo. Cheguei em 2016, a gente que estava dentro, envolvido, muitas vezes pensávamos que estávamos fazendo tudo certo, clube bem, muito competitivo, aí chegava e batia na trave. Vendo hoje como as coisas aconteceram, tinha que ser esse ano, com esses jogadores, com Mister. Ano que vem seguir acelerando para continuar ganhando.

Como tem sido acompanhar o trabalho de Jorge Jesus de perto?

Mister é um treinador referência em Portugal, respeitado na Europa. Técnico de altíssimo nível, todos jogadores que trabalharam com ele falam muito bem dele, o que ele fez esse ano dá mais credibilidade a ele, pois no Brasil é difícil, foi quebrando paradigmas, e realmente revolucionou o futebol brasileiro. O segredo desse time é o dia a dia, os treinos e como os jogadores dão a resposta.

Seria engraçado imaginar Juan à beira de campo como Jorge?

Não me imagino mesmo, dificilmente vai acontecer.

Falando sobre a faixa de campo que você ocupou, como vê a dupla de zaga formada por Rodrigo Caio e Pablo Marí?

Se completaram, não só os dois como todo time. Se penso no Flamengo, penso no time como um todo, tem muita consciência do que fazer dentro de campo. Pablo é um jogador que chama atenção pois veio de outra cultura, meio que caiu de paraquedas no meio do Brasileiro e Libertadores, e foi abraçado pelo time e correspondeu. Pessoal da análise de mercado foi muito feliz em pinçar ele em meio a milhares de jogadores. Rodrigo sou suspeito para falar. É um jogador que sempre admirei desde minha época de jogador. Teve um período difícil no último ano de São Paulo, mas isso acontece com qualquer jogador. Mas respirando novos ares. Um dos jogadores mais constantes do elenco.

Acha que o Rodrigo parece contigo no sentido da serenidade, que não precisa gritar?

Acho que sim. É um líder técnico, cara muito responsável, jogadores respeitam muito, ele não oscila muito, mesmo novo sabe interpretar as jogadas. Nesse sentido acho que parece.

Nessa grande fase do time, alguma vez bateu vontade de colocar o meião e ir para o jogo?

De vez em quando…Nesse ano tiveram muitos jogos de festa, Maracanã cheio. Por alguns segundos você pensa: “caramba…”. Mas tenho noção que não dava mais depois da contusão, até porque para jogar em alto nível a exigência muito grande. Mas não estava aguentando mais. Estava tranquilo com isso. Nem me considero ainda ex-jogador, pois parei esse ano. Bate a vontade de estar em grandes jogos, mas nada que me faça sofrer. Até brinquei com eles que a primeira vez que me arrependi de ter parado foi agora. No voo do Rio para Doha, pois eles pegaram 14 horas de executiva e eu não (risos). Mas só brincadeira.

Como foi o torcedor Juan na final da Libertadores?

Ali foi mais difícil. Muito tempo não vivia esse emoção, calhou de estar na arquibancada, perto dos torcedores com meu filho. Passou um filme do tempo que ia com meu pai. Foi um jogo único. No Maracanã, assisto no camarote, mas tenho que me comportar bem pois não sou apenas torcedor. Em Lima, para ganhar a Libertadores, pude viver como torcedor.

Globoesporte.com


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