LUTO: Kobe Bryant foi o símbolo maior de uma era em que a NBA dominou o mundo

O impacto devastador da morte de Kobe Bryant se alastra por dois caminhos dolorosos. Primeiro, a tragédia humana, potencializada pela presença da filha Gianna, de 13 anos, no helicóptero que caiu na cidade de Calabasas, na Califórnia. Depois, pelo impacto gigantesco que o astro do Los Angeles Lakers teve na comunidade do basquete em um momento muito especial. O contexto das últimas décadas ajuda a explicar tamanha comoção. Kobe não foi o maior ou o melhor jogador de todos os tempos. Mas foi o primeiro grande ídolo de massa da época em que a magia da NBA se espalhava pelo mundo em velocidade assustadora.

Michael Jordan ocupa, com justiça, o topo do olimpo. Mas sua carreira, de 1994 a 2003, viveu o auge em um período pré-internet, antes das redes sociais. Jordan foi gigante globalmente, mas antes dos memes, dos vídeos curtos, da arte de se tornar viral. Kobe, além de ter abraçado com classe inigualável a missão de ocupar o vácuo deixado por Jordan como dono da NBA, brilhou em escala global. Seus jogos já eram transmitidos para todo o planeta, seus lances já ecoavam pelo Twitter, pelo Facebook, pelo Instagram, pelo Whatsapp.

No Brasil, por exemplo, é incontável o número de garotos e garotas que começaram acompanhar o esporte por causa de Bryant. O fato de defender uma das franquias mais tradicionais da história também ajudou, claro. O Los Angeles Lakers é uma fábrica de lendas desde os anos 60: Jerry West, Wilt Chamberlain, Kareem Abdul-Jabbar, Magic Johnson, Shaquille O’Neal… até LeBron James passou a vestir roxo e dourado. Formados ou não em Los Angeles, alguns dos maiores nomes da história da bola laranja brilharam no time mais hollywoodiano do mundo. Não por acaso, a entrada do ginásio Staples Centers é lotada de estátuas, que atraem turistas e fãs do basquete, seja em dia de jogo ou até fora da temporada.

Kobe foi um mestre no meio desse caldeirão de mestres. Catequizou jovens torcedores, inclusive no Brasil, onde acumulou um séquito de fãs enquanto esteve em quadra. Pontuou essa trajetória com dois elementos fundamentais para a construção de uma lenda: um talento colossal e o espírito competitivo extremo que lhe rendeu o apelido de Black Mamba, em alusão à cobra dos botes certeiros. Foi assim desde a estreia contra o Minnesota Timberwolves, quando não fez nenhum ponto, até a despedida contra o Utah Jazz, quando fez incríveis 60.

Fora da quadra, Kobe visitou extremos. Em 2003, foi acusado de abusar sexualmente de uma camareira de hotel de 19 anos, num caso em que o jogador passou praticamente incólume na esfera jurídica, com um pedido de desculpas público e um anel milionário de presente para a esposa como pedido de desculpas pela traição. Ignorar este fato seria injusto com a vítima e deixaria incompleta a própria história de Kobe.

Ao mesmo tempo, a reputação extra-quadra ganhou contornos bem mais simpáticos com a imagem do cara que ajudava todo mundo, inclusive sendo mentor de outros jogadores, como Jayson Tatum, do rival Boston Celtics. No caso específico do Brasil, a relação com Oscar Schmidt criou uma proximidade única. Kobe era fã de Oscar, e vice-versa.

Mas o que realmente vai fixar o legado nos livros de História é o que ele fez com a bola de basquete na mão. Os dois ouros olímpicos, os cinco títulos da NBA, as 18 participações em All-Star Game, o prêmio de MVP, os 33.643 pontos – ultrapassados por LeBron James um dia antes da queda do helicóptero, em uma coincidência dessas de arrepiar.

A última manifestação de Kobe nas redes sociais foi justamente uma postagem em respeito a LeBron: “Continuando a levar o jogo adiante, @KingJames. Muito respeito, meu irmão”. Se isso não é uma passagem de bastão emblemática e emocionante, o que mais será?

Globoesporte


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