Mário rebate cobrança por promessas não cumpridas: “O Fluminense tem de se reconstruir em até 12 anos”

Além de anunciar o afastamento de Celso Barros do comando do futebol e a garantia da continuidade do trabalho de Marcão, o presidente Mário Bittencourt usou a coletiva de quinta-feira para defender a gestão do Fluminense. O mandatário reclamou de críticas, em especial as cobranças por cumprimento de promessas feitas na campanha, usou de ironia em alguns momentos ao comentar postagens de torcedores nas redes sociais e disse ter certeza de que o resultado do que definiu como trabalho de “reconstrução do clube” será positivo.

Mário falou por quase duas horas. Lembrou que assumiu o clube em junho, pagou seis meses de salários de funcionários e jogadores (apenas CLT, com débito atual de dois meses, deixando os direitos de imagem dos atletas em aberto) e R$ 24 milhões em dívidas em um contexto de dificuldade financeira. Por exemplo: revelou que todas as cotas de direito de transmissão até 2024 estão antecipadas ou penhoradas.

– Essa questão de, vou falar tranquilamente, não baliza as nossas decisões. “Ah, prometeu na campanha e não aconteceu”. A gente entregou um plano de gestão, cara. Está no site até hoje. Ele é de três anos e meio. Uma série de coisas que estão no plano vão acontecer, outras não. Por qual motivo? O clube tem de se reconstruir em três, seis, nove até 12 anos – afirmou o mandatário.

Pois o presidente reafirmou que deu início aos projetos de governança (cargos e salários) e compliance (termo corporativo para cumprir e fazer normas, políticas e diretrizes internas). Voltou a garantir que o “Portal da Transparência” será lançado, disse que promoveu e concluiu obras na sede de Laranjeiras (como a piscina olímpica). Além disso, anunciou que o programa Sócio Futebol terá novidades anunciadas em janeiro e que há a garantia de que um percentual (não revelado) da venda de Pedro será destinado a Xerém para investimentos (ainda não foi colocado em prática dada a dificuldade financeira).

– Não vou ficar impressionado ou pressionado porque as pessoas estão postando “ah, você prometeu”. Se daqui a três anos eu quiser seguir e os sócios entenderem que a gente melhorou a gestão e votarem, ok. Se entenderem que a gente não fez uma boa gestão, colocam outro. É democracia. É Fluminense grande. Eu insisto em não politizar a gestão. As pessoas dizem que eu falei na campanha. Lógico. Falei tudo que pretendo fazer. Numa boa, se a gente conseguir fazer 60% ou 70% do que nos programamos, posso dizer, o Fluminense vai dar um salto de qualidade monstruoso – acrescentou Mário.

Plano de Gestão da chapa Tantas Vezes Campeão de Mário Bittencourt e Celso Barros — Foto: Divulgação
Plano de Gestão da chapa Tantas Vezes Campeão de Mário Bittencourt e Celso Barros — Foto: Divulgação

Veja outras declarações de Mário

Patrocínio master

Eu já falei e vou repetir. Na campanha, fomos procurados por duas grandes empresas. Acredito eu que, em razão das verbas de marketing serem decididas no ano anterior, essas empresas entenderam que os valores não teriam como aceitar sem aprovação dos seus conselhos. O torcedor tem de entender que o patrocínio master, hoje no Brasil, é uma receita importante, mas antes de tudo é um posicionamento de marca. Eu não posso aceitar ter um patrocínio master muito mais barato do que ele vale pois eu desvalorizaria a marca do Fluminense.

Eu olhei o vídeo da nossa virada sobre o Grêmio. Na época, não tínhamos nada. A camisa era totalmente branca. Chegamos em novembro com patrocínio no omoplata, na barra lateral, nas costas, na barra frontal. Conseguimos, enfim, diversos patrocínios que somados equivalem o que um master pagaria. Vamos continuar buscando, claro, o master. Mas não posso reduzir o nosso valor sob risco de prejudicar quem já é nosso parceiro.

Defesa institucional

As pessoas me mandam nas redes sociais que tenho de falar todo o dia. Por que? (Dizem que) não tem defesa institucional porque não falo todo o dia. Que isso, meu amigo. É lógico que tem defesa institucional. O fato de eu não vir aqui todo o dia, não falar na rede social, não ir na televisão não significa que eu não defesa o Fluminense. Eu trabalho com gestão e com a verdade.

Pedido de união na política do clube

Esse discurso banalizado de união… “Precisamos de união”, postam. Aí, o cara vai na rede social e planta uma notícia mentirosa. Isso é discurso para inglês ver, rapaz. É união para inglês ver. União é o cara chegar 8h e ajudar o Fluminense. Perguntar “como posso ajudar?” Vamos ajudar, pô! É o que eu sempre fiz, trabalhei em várias gestões do clube. E quando fui oposição, nunca fui ferrenho, nunca fui maléfico, nunca plantei notícia, nunca postei nada acusando.

Sócio Futebol

Eu não vou enganar o torcedor. Não vou dizer que no ano que vem, a nossa folha será de R$ 30 milhões para poder competir. Não vai. No ano que vem, vamos ter de manter a nossa filosofia de reconstrução da instituição. Se a gente tiver um aporte ou novo patrocinador, por exemplo, vamos aumentar um pouco para melhorar. Eu não sou um sujeito que não raciocina. Sei que vencer me traz receita.

O Fluminense precisa disso: do sócio. Nenhum patrocinador master no Brasil vai pagar mais de R$ 8 ou R$ 10 milhões por anos. Divide aí e faz a conta. Se a gente tiver R$ 5 milhões do Sócio Futebol por mês, e o Grêmio e o Inter tem muito mais do que isso, a coisa será diferente. Eu posso contratar, posso fazer melhores contratos e posso comprar jogadores.

Eu leio coisas que não acredito: “só vou ser sócio quando tiver um time melhor”. Amigo, aí você não quer reconstruir, você quer moleza. “Ah, mas você falou na campanha que tinha vontade de repatriar um ídolo”. Tenho. E vamos repatriar na gestão. Mas eu não falei na campanha que ia repatriar um ídolo ganhando um dinheiro que o Fluminense não pode pagar. Se ele quiser voltar, vai ter de entender a nossa realidade. Faço todo o esforço disso. Isso não tem nada a ver com promessas. Ninguém falou que a gente ia ter o melhor time do mundo, porra, em três meses. Entende? Temos de reconstruir o Fluminense com austeridade, respeito às regras e às instituições. Se não for assim, vai sair o Mário, vai vir outro e o Fluminense vai continuar enxugando gelo.

Promoção de ingressos

Ouço dizer que o Fluminense é um clube de elite. Que isso, cara! O Fluminense precisa do povo, que mora na Zona Norte, na Zona Oeste, na Baixada. Eu sempre digo isso nas minhas reuniões: o cara que vai ao jogo é de longe. Eu sei pois quando a gente jogava em Edson Passos e era vice de futebol as pessoas pediam para mandar ofício à Supervia pedindo que o trem ficasse aberto até tarde. A gente é um clube que precisa do torcedor que mora em todo o Rio. Reclamam que tem de baixar o ingresso. Já expliquei que quanto mais eu baixo o ingresso, mais eu prejudico o Sócio Futebol. Quando eu baixo o preco do ingresso, o sócio manda um mail para a minha secretária e diz que o cara que não é sócio paga menos do que ele. Por isso, tem de ser sócio. Eu tenho de decidir como gestão, não como torcedor.

Identificação de gastos dos setores do clube

O trabalho de identificação tem sido feito. Identificamos muitas coisas, onde o dinheiro vai pelo ralo, isso está sendo identificado. Mas há dificuldade. Temos mandato tampão de seis meses, não temos Conselho Deliberativo, a auditoria já estava contratada, programamos a contratação de uma nova a partir de janeiro. Esse balancete publicado recentemente é anterior à nossa gestão. Não é crítica, não. Os valores aumentam pois os contratos aumentam.

Falam muito no back office. Ali é PJ. O contrato de imagem de jogador é PJ. O que eu quero esmiuçar é se ali não tem contrato de jogador. Quem são esses PJs? Sair dizendo, para fazer política, colocar em blog… A gente está entrando nos números. Posso garantir que muito do que é dito não é verdade. As pessoas olham e não têm a menor capacidade de interpretar um balanço. Eu, por exemplo, não tenho. Sou advogado. Estamos depurando as contas para entender.