O número de casos de câncer de mama na Paraíba, em 2020, deve ser 27% maior do que no ano passado. A informação está na estimativa para novos casos de câncer no Brasil, divulgada ontem pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). No Estado, são esperados 1.120 novos casos da doença e, em João Pessoa, 360 mulheres terão o diagnóstico positivo para a neoplasia. Diante deste cenário, um aspecto que preocupa os profissionais é que muitas não têm acesso à mamografia, essencial para o diagnóstico precoce.
Por diversas razões, entre elas, dificuldade de acesso, as mulheres deixam de fazer o exame e só descobrem o câncer de mama em estágio avançado, quando não há mais nada a ser feito para reverter o quadro. Em João Pessoa, por exemplo, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), são ofertadas 5 mil mamografias por mês, mas só 3 mil são, de fato, realizadas.
“Realmente, sobram vagas em alguns serviços e existem dois grandes gargalos: a dificuldade das mulheres chegarem no serviço de referência ou a dificuldade na regulação para marcação da mamografia”, observou a mastologista Lakimê Ângelo Mangueira Porto, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) – Regional Paraíba. Outro ponto que também dificulta o acesso de muitas mulheres, segundo ela, é que os mamógrafos normalmente estão concentrados nas grandes cidades e as mulheres não conseguem se deslocar até esses locais. Todos esses obstáculos, conforme a especialista, contribuem para aumentar o número de casos.
“Tem que ser uma batalha em conjunto, da própria paciente que tem o direito na realização do exame, em buscar o exame; segundo: dos profissionais de saúde em solicitar o exame no período certo de rastreamento e alertar as pacientes da necessidade; e, terceiro, dos gestores continuarem ofertando o exame, além de melhorar a regulação das pacientes para realização da mamografia”, enfatizou.
31,4% nunca fizeram mamografia
Na Paraíba, 31,4% das mulheres com idade entre 50 e 69 anos nunca realizaram uma mamografia. A constatação faz parte Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do ano de 2013, a mais recente realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em números absolutos, o dado mostra que 114 mil mulheres, no Estado, que teriam prioridade na realização do exame, faixa etária estabelecida pelo Ministério da Saúde, sequer chegaram perto de um mamógrafo.
A idade recomendada para realização do primeiro exame de rastreamento para mulheres que não têm casos na família, conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) é a partir dos 40 anos, com periodicidade anual. Caso existam casos na família,
a paciente passa a ser de alto risco, portanto, deve iniciar o rastreamento 10 anos antes da idade em que o familiar teve o diagnóstico. “Se o parente foi diagnosticada com câncer de mama aos 40 anos, essa mulher deve começar a rastrear aos 30 anos”, explicou a mastologista Lakimê Ângelo Mangueira Porto.
Casos na terceira idade. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia constatou que uma em cada 12 mulheres vai receber o diagnóstico de um tumor nas mamas até os 90 anos de idade. Por isso, a SBM reforça que são importantes medidas de conscientização sobre este tipo câncer. Se descoberto precocemente, as chances de cura chegam a 95% dos casos.
A reportagem solicitou dados da Paraíba à Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB) na última segunda-feira, dia 3, mas até o fechamento da matéria os dados não foram enviados.
Medo intimida mulheres
Duas mil mamografias deixam de ser feitas, mensalmente, em João Pessoa e, para tentar localizar as mulheres que não se submeteram ao exame, a Secretaria Municipal de Saúde informou que tem mobilizado as equipes de saúde para realizar a busca ativa efetiva da população-alvo. Entre as providências, a SMS tem feito ainda o agendamento por demanda espontânea de alguns procedimentos, a exemplo de biópsia dos casos suspeitos (categoria BI-RADS 4 e 5) no Centro Especializado de Diagnóstico do Câncer (CEDC).
Além disso, tem sido feito o monitoramento mensal dos casos suspeitos e foi ampliado o acesso ao exame por meio do agendamento interno nos serviços credenciados, de acordo com a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher, da SMS, Amanda de Araújo Romera.
Ela destacou que a mobilização da comunidade para a realização da mamografia é rotina dos nossos serviços. Garantiu também que o município tem condições de atender a todas as mulheres dentro da faixa prioritária com uma mamografia por ano e lembrou que, entre as dificuldades, estão a procura pelo atendimento apenas no mês de outubro, medo e estigma, além do início do tratamento tardio, ou seja, mais de 60 dias após o diagnóstico.
* Lucilene Meireles, do Jornal Correio