Qual o sentido de futebol sem torcida?

Não sou infectologista, muito menos especialista em saúde pública. E não tenho dúvidas de que são profissionais dessas áreas os que devem ser ouvidos e os que devem decidir o que fazer com relação às partidas de futebol no Brasil, enquanto estivermos assolados pela pandemia do novo coronavírus. Mas sou jornalista há 33 anos, cronista esportivo há 32 e torcedor há 46. Tempo suficiente para saber que futebol só faz sentido com a presença de torcedores em campo. Podem ser poucos, mas sem eles o jogo vira burocracia, um mero cumprimento de tabela.

Claro que alguns pensarão no calendário, no tumulto que terá de ser administrado nele quando a crise ficar sob controle, outros lembrarão que tanta gente obrigada a ficar em casa ficaria menos angustiada podendo ver futebol ao vivo na TV. Mas a saúde e a vida da população – ou que seja de parte dela – está acima de qualquer outro argumento. As guerras já cancelaram Copas do Mundo. Insistir em fazer qualquer coisa que pareça um confronto com um perigo como uma pandemia é suicídio, uma irresponsabilidade.

Se as autoridade concluem que não é possível reuniões com a quantidade de gente que se reúne em estádios, elas têm de ser obedecidas. Ponto. E diferentemente do que sugere o comentário infeliz do Governador do Rio de Janeiro, realizar jogos não é “problemas dos jogadores”. Porque se os jogos forem realizados é porque os jogadores serão obrigados a entrar em campo. Eles e todos os que formam o entorno das partidas – comissões técnicas, árbitros e a mídia que cobre com todo o empenho e dedicação esses eventos.

Mas eu nem precisaria chegar à discussão dos direitos e da segurança dos atletas. Basta observar a situação esdrúxula de serem disputados jogos, rodadas, turnos, fases de campeonatos com os estádios vazios. Nem aprofundarei o prejuízo financeiro. Fico na magia que um jogo de futebol proporciona à… torcida. Sem ela, a magia não se dá. Até porque, seria imprudente e impossível até mesmo a reunião de torcedores do lado de fora do estádio ou num bar. A pandemia exige que as pessoas se afastem fisicamente umas das outras. E nesses termos um jogo de futebol vira apenas um espaço a ser preenchido numa tabela qualquer.

Eu amo o futebol. É assustador imaginar ficar dias, meses sem ele, até que o coronavírus seja domado. Mas manter os campeonatos sem torcida… não é futebol. Pelo menos não é o que aprendi a entender como futebol. Que todos, eu, você e os dirigentes esportivos incluídos, saibamos entender e acatar o que determina a CIÊNCIA.