É bem verdade que, se pegarmos um “quadro de medalhas” de atletas, os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt possuem mais medalhas, são cinco. Mas, com todo respeito aos brilhantes atletas que também estão no olímpio do esporte nacional, não é só de conquistas que vive um ídolo.
Serginho não teve reserva em Olimpíadas. Nas quatro Olimpíadas que participou, era o único líbero no elenco. Ou seja, ou ele entrava em quadra, ou a tática tinha que ser totalmente mudada para jogar sem nenhum atleta da posição. Foram quatro finais olímpicas, nenhum jogador da história alcançou esse feito.
Se falássemos só de esporte e de conquistas, Serginho já estaria entre os maiores nomes da história. Dois ouros e duas pratas olímpicas, dois títulos mundiais, duas Copas do Mundo, sete Ligas Mundiais, duas Copas dos Campeões. Individualmente, foi eleito o melhor jogador das Olimpíadas do Rio, mesmo sem marcar nenhum ponto.
Mas não são só conquistas.
Serginho sempre teve carisma. E não precisava forçar isso. Eu diria até que tenta ser discreto, sem muita espuma, como a gente costuma falar. Suas entrevistas, sua modéstia e o seu jeito humilde e natural já o transformaram em um ídolo.
Ao contrário de alguns ícones do vôlei dos anos 1980, 1990 e 2000, Serginho não é considerado um galã, embora tenha seu charme, admito. Mas não eram para eles os gritos apaixonados de fã clubes nos jogos do Brasil.
Nunca escondeu sua história, sempre teve muito orgulho de sua origem, no bairro de Pirituba, em São Paulo. Ao mesmo tempo nunca usou isso como trampolim na sua carreira. Conseguiu dosar de forma perfeita o que queria mostrar para todos. E isso é muito difícil.
Era um líder dentro de quadra. Nas Olimpíadas do Rio, na final contra a Itália, em um momento difícil do terceiro set, em que o Brasil estava sofrendo, foi ele que, ao invés de comemorar o ponto com os colegas, como sempre faz, foi para torcida. O público estava meio apreensivo, e ele foi até próximo da arquibancada e pediu o apoio. Experiência de quem já era um querentão.
Serginho é líder, simples, espelho para os outros, guerreiro, inspirador, forte. E, após as Olimpíadas do Rio, resumiu:
“Eu não me acho um cara merecedor, sou um cara normal, sou só o filho da Didi, de Pirituba”
Ah, você é muito merecedor sim! E a dona Didi tem orgulho disso.
Guilherme Costa; Globoesporte.com