Carlinhos Brown aponta sinais vitais da axé music em EP com batidas de funk e samba

Capa do EP 'Axé inventions – Àjààlà', de Carlinhos Brown — Foto: Obra de Nádia Taquary
Capa do EP ‘Axé inventions – Àjààlà’, de Carlinhos Brown — Foto: Obra de Nádia Taquary

Resenha de EP

Título: Axé inventions – Àjààlà

Artista: Carlinhos Brown

Gravadora: Candyall Music / ONErpm (distribuição)

Cotação: * * * *

♪ Atualmente com 57 anos, Carlinhos Brown ganhou projeção nacional a partir de 1989, ano em que Caetano Veloso lançou o álbum Estrangeiro com gravação de música do artista baiano, Meia-lua inteira – faixa, aliás, escolhida para dar impulso ao disco no mercado fonográfico.

A partir da década de 1990, o cantor, compositor e músico soteropolitano ganhou relevância como artista solo no rastro da criação da Timbalada, grupo de percussão criado com ambições sociais e musicais.

Só que Antônio Carlos Santos de Freitas já estava na cena de Salvador (BA) desde muito antes, mais precisamente desde 1979, ano em que foi revelado no circuito local com a banda de rock Mar Revolto. Na primeira metade da década de 1980, Brown era o percussionista da banda Acordes Verdes, liderada por Luiz Caldas.

Desde então, mais do que um artista de talento plural, Carlinhos Brown também se consolidou em cena como ativista e agitador cultural da cena musical baiana. O que legitima a edição do autoral EP Axé inventions – Àjààlà, disco gravado por Brown entre junho e dezembro de 2019 e lançado no sábado, 15 de fevereiro.

Com seis faixas e com capa que expõe imagem de bela obra da artista plástica Nádia Taquary, trabalho que expressa a força ancestral da negritude na criação do som afro-pop-baiano, o disco celebra os 35 anos do gênero rotulado como axé music e aponta sinais vitais dessa música associada ao Carnaval da Bahia.

Em Àjààlà, Brown inventa moda – ao misturar a levada do axé com o batidão do funk na pegada eletrônica de Fofoqueria, música gravada com a funkeira paulistana Letícia Tridico – ao mesmo tempo em que reverencia ritmos tradicionais do gênero folião.

Música gravada com Luiz Caldas, Sair pra vencer evoca a pulsação do primeiro sucesso do colega de Brown e cita nominalmente na letra Fricote, música de Caldas e Paulinho Camafeu que alavancou a carreira de Caldas em 1985, marcando a erupção da axé music em escala nacional.

Mãe já junta Brown com o Olodum na cadência do samba-reggae, ritmo que embasa o baticum desse grupo afro que entrou em cena simultaneamente com Brown. O integrante Elpídio Bastos contribuiu com a confecção da faixa, também formatada por Brown com Thiago Pugas, coprodutor do EP gravado com arranjos e direção musical do próprio Brown.

E por falar na cadência do samba, a de Paixão de rua (Ou) é realmente bonita. Adornado por arranjo de cordas regidas por Ricardo Sibaldi, o suave e elegante samba carnavalesco foi previamente apresentado por Brown em single editado em dezembro.

Outra música já conhecida é a aliciante Axé music (Tremula), incluída em EP lançado por Sarajane em janeiro em gravação feita com Brown. A cantora também figura no similar, mas distinto, registro de Axé music no disco de Brown.

Completam o EP o baticum feminista Tá na mulher e Cavalo de Paulo, tributo a São Paulo feito com clima timbaleiro, som de bloco e arranjo de sopros orquestrados por Cristiano Lira.

Há tempos além das fronteiras da Bahia, já tendo até gravado com o grupo cigano Gipsy Kings, Carlinhos Brown tem agitado o Carnaval paulistano com a vivaz miscigenação rítmica que costuma levar para a avenida e que reproduz em Axé inventions – Àjààlà, EP cheio de sinais vitais do som pop folião da Bahia.


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