Assim como na maioria dos municípios do Brasil, em Belém, município localizado no Agreste paraibano, a presença masculina predomina na política, tanto nas disputas, como nos cargos ocupados. Porém, ao longo dos últimos anos, esta realidade tem mudado notoriamente no município.
Quando ainda na década de 1970, a então vereadora Hipernestre Carneiro se tornara a primeira e única mulher até hoje a ser Presidente da Câmara de Vereadores, seriam os primeiros passos da luta incansável pelo protagonismo feminino na política local. Já na década de 1980 a ex-vereadora Livramento Farias também surgia nos holofotes figurando como candidata a vice prefeita nas eleições de 1988, porém sem sucesso, sendo derrotada pela chapa encabeçada por Wellington Guedes e Paulo Freire.
Apenas a partir dos anos 2000, pra ser mais exato em 2008, Belém teria sua primeira mulher disputando majoritariamente o cargo de prefeita, Ana Marly, que a época substituía a candidatura de seu esposo, o ex-prefeito Tarcísio Marcelo. Sem sucesso, Ana Marly foi derrotada pelo então Prefeito Roberto Flávio, que foi reeleito com 2.088 votos de maioria. Essa eleição ainda foi marcada pela vitória maiúscula da Vereadora Rosy de Perninha, que até hoje foi a mais votada da história do município para o cargo, obtendo 1.001 sufrágios naquele pleito, não sendo batida a marca até os dias atuais. Já em 2012 esse protagonismo aumenta com a eleição de Betânea Barros se tornando a primeira mulher vice prefeita de Belém, na chapa do então Prefeito Eleito Edgard Gama, que derrotou do outro lado uma chapa 100% feminina, encabeçada por Dona Cris tendo como vice Rossana Sales, por uma pequena margem de 295 votos.
Já em 2016, Belém faz mais uma vez história e elege sua primeira mulher Prefeita, Renata Christinne, derrotando o então Prefeito Edgard Gama, por uma diferença de 1.363 votos, além de eleger Mirelly kalinnier como a vereadora mais votada naquela eleição. Já em 2020 em um recorde de candidaturas femininas, as duas principais chapas eram compostas por mulheres, de um lado a então Prefeita Renata tendo como vice Mirelly, e pela oposição a chapa encabeçada por Aline tendo como vice Dona Cris. Neste pleito, Aline se consagrou vitoriosa com uma margem de 1.988 votos de maioria sobre Renata.
Uma verdade precisa ser dita, em ambas as gestões, de Renata e Aline, há uma tentativa notória de figuras masculinas que muito mais atrapalharam, no caso de Renata, e vem atrapalhando a gestão de Aline. Isso faz lembrar o discurso da ex-Prefeita de Alagoinha, Alcione Beltrão, ao final de seu mandato bem avaliado no município quando disse “a mulher que for eleita Prefeita, administre!”.
Apesar de óbvia, a fala de Alcione é uma direta muito sensata e necessária para que muitas mulheres não aceitem mais serem submissas em eventuais gestões pela sombra de seus maridos, irmãos, filhos, entre outros. Mas que entendam que, se uma população elege uma mulher para governar, mesmo diante da necessidade natural de assessores, pois ninguém governa sozinho, a palavra final precisa ser sempre a dela, e não a dele, pois quando uma mulher é eleita, a Prefeita é ela! Não existe Prefeito Adjunto!
Para 2024, a expectativa é que novamente os embates femininos continuem. Aline deve disputar a reeleição, Dona Cris provavelmente como candidata a Prefeita pela oposição, Mirelly retornando a câmara ou figurando na vice de Dona Cris como se cogitou fortemente nos últimos dias, e Renata, que apesar da pré-candidatura lançada do seu marido, o ex-prefeito Roberto Flávio, ela deve ser a candidata, uma vez que aliados do grupo em Belém a exemplo do Deputado Estadual Hervázio Bezerra e seu filho o vice prefeito de João Pessoa, Léo Bezerra, já declararam publicamente a preferência pela candidatura da ex-prefeita, ou ainda a via que muitos preferem e esperam que seja a de buscar uma aliança com Dona Cris.
O fato é que, independentemente da mulher eleita em 2024 (sim, os cenários levam a crer em uma nova vitória de uma mulher, pelas candidaturas apresentadas até o momento), a mesma governe de fato, sem as interferências excessivas e incômodas de masculinidades frágeis que se sentem diminuídos por ver uma mulher sentada na cadeira mais poderosa do município, a de chefe do executivo local.
É muito bom esse protagonismo em candidaturas femininas no município, uma vez que sempre se faz necessário a defesa de um envolvimento maior das mulheres na política, se desprendendo de discursos limitados, muitas vezes impostos por homens que, na realidade, invejam tal ascensão feminina. Porém, falta ainda essas mulheres serem mais firmes em seus posicionamentos e decisões, fugindo e se desligando da sombra masculina, que por vezes, mais atrapalha que ajuda.
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