O futebol iria mudar. Era a conclusão da revista Guerin Sportivo, a publicação italiana que mais me fez entender o que significava a vitória de Jean Marc Bosman na corte europeia. Em 15 de dezembro de 1995, Bosman ganhou o direito de se transferir do Liege, da Bélgica, para o Dunkerque, da França. A sentença criou a jurisprudência. Os jogadores passavam a ser livres ao final de seus contratos e tinham o direito de trabalhar livremente, em qualquer país da Comunidade Econômica Europeia, se tivesse passaporte europeu. Como qualquer engenheiro, médico, advogado ou jornalista.
No final daquela temporada, 1995/96, a Juventus foi campeã europeia com dois jogadores estrangeiros: o português Paulo Sousa e o francês Deschamps. Em 2010, pela primeira e única vez, o campeão tinha onze internacionais: Júlio César (Brasil), Maicon (Brasil), Lúcio (Brasil), Samuel (Argentina), Chivu (Romênia); Cambiasso (Argentina), Zanetti (Argentina); Eto’o (Camarões), Sneijder (Holanda), Pandev (Macedônia); Diego Milito (Argentina). O técnico era o português José Mourinho.
No aniversário de dez anos, o goleiro Júlio César se lembra da conquista e das particularidades de jogar num time em que cada um falava uma língua:
PVC – Qual foi a grande diferença de jogar num time com onze jogadores, cada um de um lugar?
JÚLIO CÉSAR – O primeiro passo é adaptar-se ao país. Aprender o idioma. Então, você começa a se comunicar em italiano. Jogar com onze estrangeiros nunca foi um problema. Mas é claro que num grupo com 25, 26, 27 jogadores, cada um pode às vezes ter um problema. Mas isso vale para qualquer grupo, não só para os que têm estrangeiros.
PVC – E como se resolve quando tem este tipo de problema?
JÚLIO CÉSAR – Aí, é preciso ter muita liderança de um treinador. E o Mourinho tinha muita.
PVC – O noticiário da final diz que você só podiam ver programas esportivos e em italiano.
JÚLIO CÉSAR – Não. Isso é lenda. Nunca existiu isso. A gente podia ver nossa programação como quisesse, como preferisse.
PVC – Como eram as palestras?
JÚLIO CÉSAR – Eram sempre em italiano. O Mourinho falava italiano, mas é claro que quando alguém não entendia alguma palavra, alguma coisa, o Mourinho tinha a facilidade do idioma. Às vezes falava com o Sneijder em inglês. No grupo, às vezes a gente via o Eto’o falando com outros jogadores em francês, o Sneijder preferia falar inglês. Na hora do aperto, muitas vezes você vai para sua área de conforto.
PVC – No Brasil, muitas vezes há grupos de jogadores cada um de um estado. Tem alguma semelhança?
JÚLIO CÉSAR – Não. Não tem nenhuma semelhança. Porque, no Brasil, mesmo que tenha alguém de São Paulo, do Rio, do Rio Grande do Sul, do Paraná, da Bahia, nós somos um país só. Temos a mesma cultura, os mesmos hábitos. Então, são situações diferentes.
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