♪ MEMÓRIA – A rigor, Maria Bethânia deu o pontapé inicial na carreira de cantora quando, em 1963, participou em Salvador (BA) de encenação de Boca de ouro (1960), texto do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912 – 1980), em montagem que tinha trilha sonora assinada pelo mano Caetano Veloso, então também dando os primeiros passos profissionais.
Bethânia abria a encenação cantando, no breu, o recente sucesso Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962), lançado no ano anterior. Em 1964, na sequência dessa incursão teatral pela música, a cantora integrou o elenco de shows coletivos e protagonizou espetáculo solo em Salvador (BA).
Contudo, para a intérprete baiana nascida em 18 de junho de 1946 na cidade interiorana de Santo Amaro da Purificação (BA), o marco zero da carreira foi a estreia no espetáculo Opinião, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Convidada para substituir Nara Leão (1942 – 1989), integrante do elenco original desse teatralizado show-manifesto que estreara em 11 de dezembro 1964, Bethânia subiu pela primeira vez ao palco carioca do Teatro de Arena em 13 de fevereiro de 1965. Portanto, pelas contas oficiais da artista, Bethânia completa 55 anos de carreira nesta quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020.
Mesmo não sendo uma data redonda, a efeméride traz à tona uma lenda que persiste em relação à chegada de Bethânia à cidade do Rio de Janeiro (RJ). Diferentemente do que vem sendo cravado em reportagens publicadas ao longo das últimas décadas, Bethânia não chegou ao Rio com 17 anos, em janeiro de 1965, para se preparar para substituir Nara no Opinião.
Há toda uma lenda – nunca desmentida pela artista – em torno do fato de a cantora ter vindo para o Rio trabalhar quando ainda era menor de idade. O fato é que, em janeiro de 1965, Bethânia já tinha 18 anos e já iria fazer 19 em junho daquele ano de 1965.
O fato também é que ao assumir o papel de Nara Leão no Opinião, após período de preparação em que a cineasta e atriz Susana de Moraes (1940 – 2015) ocupou provisoriamente o lugar de Nara enquanto Bethânia ensaiava para entrar em cena, a intérprete baiana já se mostrou grande e fez história com interpretação antológica de Carcará (João do Vale e José Cândido, 1964), Com o voo alto de Carcará, Bethânia abriu caminho para o início de carreira fonográfica que nunca saiu dos trilhos nesses 55 anos.
A força da personalidade foi fundamental para que Bethânia não se deixasse encapuzar com a capa de “cantora de protesto” que o mercado da música queria lhe enfiar por conta do sucesso de Carcará. Bethânia já era uma artista maior desde os 18 anos.
Quando o cerco comercial ameaçou se fechar, a cantora voltou para a Bahia e somente retornou ao Rio quando já vislumbrava um caminho pessoal e independente que começou a trilhar em 1967 com a edição do álbum dividido com Edu Lobo e com a estreia do show Comigo me desavim, espetáculo que apontou um estilo que seria aprimorado pela intérprete quatro anos depois com o referencial show Rosa dos ventos (1971).
O resto é uma história das mais nobres do universo da música brasileira. A história de uma artista tão verdadeira que resiste a uma lenda como a chegada de Maria Bethânia ao Rio de Janeiro com “17” anos.