Resenha de álbum
Título: Quadra
Artista: Sepultura
Gravadora: Nuclear Blast Records / BMG (Brasil)
Cotação: * * * * 1/2
♪ É até injusto com o Sepultura sentenciar que, a partir do recém-lançado álbum Quadra, a banda mineira de thrash metal se livra definitivamente da assombração dos fantasmas dos irmãos Igor e Max Cavalera.
O álbum anterior do grupo, Machine Messiah (2017), já tinha exposto todo o peso e poder da banda na formação atual com Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (voz), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Jr. (baixo).
Petardo certeiro arremessado no mercado fonográfico na sexta-feira, 7 de fevereiro, Quadra é álbum mais de consolidação do que de afirmação do Sepultura pós-Cavaleras. Mais um álbum de consolidação, aliás. Discos anteriores dos anos 2010 já tinham sinalizado que a banda vinha caminhando bem após década titubeante.
Só que o álbum Quadra – formatado na Suécia em agosto de 2019 pelo produtor musical de Jens Bogren, muito responsável pela ótima fase fonográfica da banda – é disco pautado por grandiosidade épica que arrepia já na primeira das 12 músicas, Isolation, apresentada pelo Sepultura em primeira mão no show que fez no Rock in Rio 2019.
Means to an a end e Last time – com direito a um dos muitos solos de guitarra de Andreas Kisser que, ao longo do disco, conquistam até quem não é metaleiro – preservam o alto nível da primeira das quatro faces de Quadra.
Sim, o álbum é conceitualmente estruturado em quatro partes sequenciais, representadas cada uma por três músicas. A primeira é a mais explicitamente thrash. A segunda parte – composta pelas músicas Capital enslavement, Ali e Raging void (com coros épicos e dose maior de groove) – destaca o toque de percussões tribais.
Sem clonar a fórmula de álbuns antológicos como Roots (1996), o Sepultura reutiliza referências do passado, como o som tribal, para seguir em frente. Com o detalhe de que esse tripé mais percussivo de Quadra preserva o som e a fúria da parte thrash. Não há uma quebra na primeira transição de Quadra. A brutalidade do som e do canto de Eloy Casagrande conecta a primeira parte à segunda.
A unidade aparenta rachar a partir da introdução da sétima faixa, Guardians of earth, iniciada com suave toque de violão, mas logo o peso é retomado. Ainda assim, há nítida mudança de clima a partir de Guardians of earth, com a valorização de passagens instrumentais, mote da terceira face do álbum.
The Pentagram se insere nessa leva, evidenciando a dinâmica inventiva da marcação da bateria de Eloy Casagrande entre solos da guitarra de Kisser. A faixa Auten completa essa terceira parte do álbum Quadra com prova de que o vocal agressivo de Derrick Green se encaixa nessa moldura de acabamento instrumental mais sobressalente.
Quadra perde (somente) um pouco do poder de sedução nesta quarta parte sem deixar de se impor, no todo, como um dos melhores álbuns do Sepultura por mostrar – cabe ressaltar – uma banda que sabe seguir em frente, com vigor, entre ecos do passado de glória.
Em cena desde 1984, o Sepultura atravessou fases menos produtivas nesses 36 anos de vida ininterrupta, sobretudo nos anos 2000. Mas a banda já tinha reencontrado o rumo muito antes de Quadra e mesmo de Machine Messiah.
Quadra é o 15º álbum de estúdio na trajetória assombrosa do Sepultura. Mas parece até o primeiro por estar impregnado de frescor e de uma energia típica da juventude.
Colaborou Mauro Ferreira